Espelho meu!
Sabes, realmente, quem és ou demoraste tanto tempo a construir a tua máscara que já não te é possível reconhecer o que, antes, habitava em ti?
Consegues encontrar-te quando te vês ao espelho ou, por vezes, é como se aquele rosto nem sequer te pertencesse?
As pessoas conhecem-te ou conhecem, apenas, a parte de ti que permites que esteja a descoberto?
Quantas camadas colocaste por cima da tua raiz, da tua essência, do teu corpo físico ou emocional?
Será que a pessoa genuína que eras pode ter dado lugar a uma versão mais facilmente aceitável por todos?
Fica difícil responder, com verdade, a estas perguntas. Julgo que talvez sejamos uma mistura da nossa versão original, e em bruto, e uma junção forçada da nossa versão social. Da versão que espera ser aceite pelos outros. Pela família. Pelos amigos. Ou por um estatuto que nem se sabe quem definiu.
No entanto, a versão nossa que interessa a Jesus é a mais tosca. A mais imperfeita. Aquela que não tem base nem batom. Aquela que não coloca um sorriso amarelo mesmo quando nos apetece nem olhar para ninguém. A nossa versão que rima com o presépio que nasceu com o Menino-Deus é aquela que não queremos mostrar a ninguém. Aquela que até preferíamos que nem existisse. Habituámo-nos a dar-nos pouco. Para sofrermos menos. E acabamos por nos esquecer, sem querer, de quem somos quando todas as luzes se acendem à volta de uma época que rima pouco com a verdade de quem nasceu para ser amado a partir da sua maior imperfeição. Da sua maior ferida. Da sua maior dor.
É quando tiramos todas as máscaras que podemos encontrar O verdadeiro amor. A verdadeira presença. E o silêncio de Quem nos salva, mais uma vez, a partir da estrela que guiou aqueles três reis.