Estar presente ou ser presente?
Começámos cedo demais a ser reféns da época natalícia. Ainda nem tinham sido assadas as primeiras castanhas e já estávamos a ser bombardeados com acessórios de toda a espécie e feitio. Quase como se houvesse uma intrusão e um desnorte que nos provoca desorientação e incompreensão.
Que tempos são estes em que vivemos presos a um futuro que nem sabemos se chega? Que forma de estar é esta que nos obriga a viver dois passos à frente e a condenar sistematicamente o momento presente?
Queixamo-nos depois de que as crianças estão ansiosas. Preocupadas. Que dormem mal e que não conseguem descansar. Não há grandes hipóteses de que aconteça o contrário quando nós, os ditos adultos orientadores deste “carrossel”, embarcamos nestas antecipações com tão pouco sentido.
Vivemos para o futuro. E isso não tem de ser necessariamente mau, obviamente. É necessário, e prudente, pensar no que pode vir. No que nos pode bater à porta ou nos imprevistos que podem vir alojar-se nos nossos dias. Mas viver de futuro, somente, não traz paz a ninguém. Traz destabilização. Incoerência. Pressa pouco legitimada.
Para quê querer viver o que ainda não chegou?
Para quê antecipar o Natal e vesti-lo de um consumismo que nada rima com as origens da dita época?
Que sentido estamos a dar ao nosso dia-a-dia se não estamos mergulhados nele?
Estamos a viver, de facto? Ou a voar sobre os dias como quem não quer saber ou descobrir o que anda cá a fazer?
Uma coisa de cada vez e tudo a seu tempo.
O tempo de cada coisa não se ultrapassa por querermos vivê-la antes de tempo.
O Natal só o é quando chegar.
Viver tudo antes do tempo é, quase sempre, tempo profundamente perdido.
Já dizia Chiara Petrillo “apenas vivendo o hoje é possível enfrentar a vida”.