Assim também está bem!

Crónicas 5 novembro 2025  •  Tempo de Leitura: 2

No outro dia, enquanto lia um livro, deparei-me com uma frase que me fez parar; a frase era: “assim também está bem”. Vinha na sequência do relato de um testemunho de alguém que acabou por mudar radicalmente a sua vida após uma experiência de quase morte. Para além da força e da profundidade do relato, chegava esta frase simples, quase inaudível, mas, ao mesmo tempo, um grito.

 

“Assim também está bem”.

 

A reflexão que fiz trouxe-me ao lugar onde estou na minha própria vida. E resgatou-me esta ideia de que nem sempre a versão idealizada dos acontecimentos é a melhor versão. Claro que vivo (e vivemos) com uma expectativa elevada sobre tudo. Gostávamos de ser isto ou aquilo. De trazer este ou aquele resultado brilhante e iluminado para a nossa vida. Gostávamos, até, de evitar o sofrimento, os dissabores, as quedas e os momentos em que resvalamos ladeira abaixo. Contudo, não é isso, a vida. Quase nunca é isso, a vida. E talvez nos seja necessária esta sabedoria encerrada aqui: “assim também está bem”. Ou seja:

 

Não é como eu quero, mas assim também pode ser.

Não é o que eu esperava, mas quem sabe não chegue a ser melhor do que imaginei.

Não é como eu tinha visto o cenário final, mas aceito que também possa ser assim.

 

Comecei, assim, a fazer este exercício internamente. O de imaginar várias situações com resultados diferentes dos que eu gostaria ou quereria. E em cada um que contrariava a minha esperança ou as minhas vontades, tentava dizer: “assim também está bem”. E mudava tudo.

 

Ou melhor, mudava o mais importante: a minha postura relativamente ao que poderia acontecer.

 

Gostava de viver mais como este homem que viu a vida virada do avesso, mas que a recuperou de uma forma completamente nova e inaugurada.

 

Talvez nos falte amar mais as reviravoltas. Os planos trocados. As perspetivas nunca imaginadas.

 

Talvez esteja aí a raiz para uma vida mais pacificada.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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