Novo ano ou novo eu?
Talvez não seja nem uma coisa nem outra.
Vivemos esta altura com as expectativas implantadas da novidade. De repente, é esperado que tudo mude e, obviamente, para melhor. De um minuto para outro é importante que se tomem resoluções repentinas e acaloradas que nem sempre rimam com a realidade. Essa ficção que somos chamados a viver só nos afasta daquilo que é a verdade com que vivemos diariamente.
Aquilo que a vida é, não se muda num dia.
Aquilo que somos não se altera só porque bate a meia-noite.
Nós podemos demorar uma vida a alterar um detalhe em nós. Quando nos trabalhamos interiormente nasce-nos esta esperança quase infantil de acordarmos diferentes. Mais iluminados. Mais bondosos. Mais adultos, até. Mas as verdadeiras mudanças internas não se compadecem das nossas pressas. Vão-se revelando, a pouco e pouco, à medida que envelhecemos e que avançamos na experiência do que a vida é. Basta estar na disposição de receber e de se deixar permear pelos acontecimentos mais diversos que nos forem atropelando os dias.
E, se assim é, como podemos esperar que tudo (nos) mude quando se muda a página do calendário?
Que este final de ano possa servir-nos para observar o tanto que já vivemos e as diferentes lições que nos têm sido ensinadas. Para aprender alguma coisa é preciso querer. Para mudar, também.
Que a nossa verdade (seja ela qual for) possa ser o que nos enche o copo e as medidas. Que a nossa inteireza e coerência de espírito possam substituir os confettis e as passas ressequidas. Só quando nos conhecemos verdadeiramente podemos, enfim, abrir espaço para que o novo faça casa em nós.
Mais do que um ano bom, que seja um ano de verdade. Com tudo o que isso implica e significa!