Descansar sem culpa(s)

Crónicas 30 julho 2025  •  Tempo de Leitura: 3

Chegamos ao fim de mais um ano letivo. Para muitos, esta é a medida de tempo que rege a época de trabalho e de descanso. O verão traz-nos a promessa de um tempo novo. Sem grandes preocupações nem responsabilidades. Sem grandes decisões ou complicações. Sem tantas dificuldades ou entraves. O trânsito nas grandes cidades abranda e faz-nos sentir que a vida seria mais fácil se não quiséssemos sempre ir todos para os mesmos sítios, a toda a hora. A migração de verão levará este movimento para Sul, onde nos encontraremos novamente e desejaremos, então, ter escolhido um destino de férias mais sossegado.

Parece que já não sabemos estar em lugares que não estão na moda, que não são mostrados nas redes sociais e que ninguém conhece. Bendito esse tempo da nossa infância em que as férias para sul significavam uma viagem de carro de dia inteiro, mas não implicavam o (re)encontro com milhares de pessoas. O tempo era diferente, a dispersão mais saudável e repartida. Havia tempo e espaço para todos. E sobrava. Não havia tantos atropelos nem na rua, nem nas praias, nem nos restaurantes que, por milagre, estão sempre cheios apesar “da(s) crise(s)”.

Usamos o verão para esquecer. As férias são arma pacífica e florida que não nos deixa espaço para sermos infelizes ou para desvelar as negatividades que nos assolam no resto do ano. E que bom que é.

Será? Será bom usarmos este tempo para esquecer o que não deixa de lá estar?

Ou faria mais sentido encontrar espaço para o descanso mais frequentemente, bem como para todas as outras emoções, sentimentos e eventos mais ou menos disruptores?

Queremos esquecer tudo num mês. Com três ou quatro mergulhos na piscina ou no mar que está cada vez mais quente (!).

Lamento informar que não é assim que funciona. O verão é só o verão e a vida continuará a desenrolar-se em nós como no inverno ou noutro tempo qualquer.

Que possamos encontrar tempo para descansar, para deixar o sol nutrir o corpo e a alma, mas que possamos encontrar também espaço para refletir de que formas podemos viver com mais coerência. Estejamos de férias ou não.

Boas férias! E bom descanso! Mesmo assim…

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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