Sem luz e sem noção!
Cada um de nós terá vivido a escuridão de ontem de uma maneira muito particular. No entanto, algo foi comum para todos nós: todos vivemos O MESMO, ao MESMO tempo. Obviamente que isso nos terá aproximado, inevitavelmente.
Muito se escreveu, se disse, se opinou, se criticou e julgou nas últimas horas. Muitas destas palavras surpreenderam-me, outras acolheram-me, outras fizeram-me sentir que não estava a viver na mesma realidade que a maioria das pessoas.
Como em tudo o que nos acontece, haverá espaço para concordar ou discordar, mas pareceu-me que muitas das pessoas se focaram (assim que tiveram internet novamente) em escrever que toda esta experiência teria sido profundamente positiva, que era incrível termos retornado ao essencial e que interessante voltarmos a ouvir as notícias num rádio a pilhas.
Vamos por partes: tudo isto seria incrível se algumas destas consequências tivesse sido escolha nossa. Não foi o caso. Provavelmente, e para as pessoas que viviam em lugares mais tranquilos, em que podiam deslocar-se rapidamente e sem precisar de grandes esforços ou meios, isto se tenha verificado real e possível; para outras tantas pessoas (onde, na verdade, me incluo) foram momentos verdadeiramente complicados, assustadores, difíceis, inesperados e, onde, fomos obrigados a manter a calma (forçadamente) pelas mais variadas razões. Em nenhum momento encontrei um resquício de positividade e “alegria” nesta situação de caos e de medo. Mas fico feliz por saber que alguém encontrou. Que cada um possa ter vivido esta situação à sua medida, dentro daquilo que lhe era possível controlar e sentir.
Aquilo que me choca é ver (e ler) que praticamente tudo o que se sentiu foi bom e positivo. Isso é uma verdade mascarada, deturpada e manipulada (pelo menos para muitos de nós). É importante, nestes dias em que tanto se fala de saúde mental, relembrar que é necessário encontrar espaço também para o negativo, para a ansiedade, para o medo e para o descontrole que ocupou o dia de tantas pessoas. Não é justo que nos sintamos mal porque não nos sentimos bem, nem tranquilos, nem a viver a “alegria” do retorno aos tempos dos nossos avós.