Mas, afinal, o que querem os professores?!

Crónicas 18 janeiro 2023  •  Tempo de Leitura: 3

Muito se fala quando não se sabe o que se há de dizer. Gostamos muito de dar opiniões sobre o que não conhecemos. Sobre o que não nos diz respeito. Sobre o que arde na casa alheia, mas que não chega a ser na nossa rua. Claro que podemos conversar, discutir e dialogar sobre todos os assuntos e mais algum (viva a liberdade de expressão!) mas saberemos sempre o que estamos a dizer? Ou gostamos, simplesmente, de julgar as decisões dos outros? E, pior ainda, de julgá-los?

 

Temos visto muita simpatia e solidariedade pela luta dos professores. Já foi (e é) a luta dos enfermeiros. Dos profissionais de saúde. Dos agentes de segurança pública. Dos trabalhadores de grandes e pequenas empresas. Concordamos com tudo até a luta dos outros interferir com as nossas necessidades. Ou seja: eu concordo com a luta dos professores desde que os meus filhos não fiquem sem aulas duas semanas ou um mês. Eu concordo com a luta dos enfermeiros desde que continuem a trabalhar nos hospitais quando eu preciso de um tratamento. Eu concordo com a luta dos agentes de segurança pública desde que estejam na rua a patrulhar.

 

Vejamos: se todos estão “nos seus devidos lugares” que luta há? Como se luta e se rompe com injustiças sem fazer mossa? Como é que se arranca o penso sujo das feridas velhas se ninguém faz barulho? Se ninguém perturba a tranquilidade da rotina? É quando somos perturbados no que nos dói mais que temos oportunidade para perceber a falta que nos fazem. Os professores. Os enfermeiros. Seja quem for. É muito aborrecido perturbar a vida de toda a gente? Obviamente que sim. Mas e a vida dos que estão (e foram) perturbados durante anos? E que vão continuar a ser?

 

Que país queremos? Que sociedade? Que herança queremos deixar às novas gerações?

 

Os professores querem o mesmo que toda a gente. Ser pagos justamente pelo trabalho que fazem. Ter contratos de trabalho justos. Que lhes permitam viver perto das suas famílias. Que lhes permitam ter qualidade de vida física, emocional e mental. Querem ser aquilo que lhes mora no coração. Querem ensinar. Querem dar aulas. Não querem perder tempo desnecessário a preencher papéis que ninguém lê e que ninguém preenche a não ser por profunda obrigação.

 

A escola está doente. E em cuidados paliativos. Tal como muitas outras áreas fulcrais da nossa sociedade. Do nosso país.

 

A luta de um é a luta de todos.

A dor de um devia ser a dor dos outros.

O que querem os professores?

O que toda a gente quer. Ser vistos.

tags: Marta arrais

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail