Quem somos quando as redes deixam de existir?!

Crónicas 6 outubro 2021  •  Tempo de Leitura: 2

Apesar de todos os constrangimentos económicos para o dono das redes sociais que fazem parte das nossas vidas diárias, não deixa de ser curioso o que aconteceu. Para os menos atentos ou para os mais “desligados”, na segunda-feira as redes sociais sofreram um break down, um abanão, um apagão que as fez não existir durante cerca de seis horas.

 

Durante essas mesmas seis horas, fizemos refresh vinte mil vezes, telefonámos aos nossos a dizer que não conseguíamos enviar as fotos, a mensagem, o áudio com as últimas novidades. Chegámos mesmo a enviar a velhinha SMS e a perceber que ainda sabíamos como isso se fazia!

 

Todo este cenário (pouco) trágico fez-nos entender a nossa ténue capacidade para lidar com a ausência das redes sociais. Era como se não existíssemos. Como se o mundo não existisse também. Como se nos tivessem tirado qualquer coisa que sempre nos pertenceu.

 

Fez-me pensar. Como é que chegámos aqui? Como é que nos tornámos nestas pessoas que fazem scroll antes de beberem café, de manhã? Como é que nos tornámos em pessoas capazes de amuar porque o instagram não nos deixou colocar a última story?

 

Não quero, de forma nenhuma, ser hipócrita. Também eu estou (há muito!) refém destas redes. Também eu já não me concebo sem estas. Mas… será possível? Como é que isto (nos) aconteceu?

 

A verdade é que enquanto as redes estiveram em baixo tivemos tempo para outras coisas. Para prestar mais atenção à conversa ao jantar. Para ler as páginas daquele livro que não sai do mesmo sítio há umas quantas semanas. Para pensar nesta nossa “dependência” pouco compreensível.

 

Há mais mundo para além das redes e, imagina-se, nós existimos MESMO para além delas. Somos pessoas completas, cheias e profundamente complexas. Com ou sem redes. Continuamos a ser nós, mesmo que não consigamos postar a última novidade. Mesmo que não consigamos partilhar a “petição pública” que não vai dar em nada. Mesmo que não tenhamos visto esta ou aquela mensagem.

 

Por enquanto, ainda somos nós. Mas se continuamos acorrentados às redes que nunca se apagam, que luz seremos quando essa “luz” se esfumar?

tags: Marta arrais

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail