Viver para trabalhar não é viver!

Crónicas 12 fevereiro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

Já não temos tempo para fazer nada que não seja trabalhar. Quando temos um bocadinho livre acabamos por escolher adiantar uma qualquer tarefa que até podia ser feita noutro momento qualquer.

 

Ensinaram-nos que não há nada mais importante que o trabalho. É preciso trabalhar para ter boas notas. É preciso trabalhar para conseguir alcançar objetivos académicos e profissionais. É preciso juntar muito esforço e muita luta a tudo se queremos, um dia, conseguir chegar a algum lado. Mas afinal, o que é isso de chegar a algum lado? É trabalhar até não saber fazer mais nada? É ignorar se chove ou se faz sol porque a cabeça não pensa noutra coisa senão no que está por fazer? É afastar os que se aproximam de nós porque o trabalho é a nossa prioridade? É já não saber o que somos ou quem somos nos raros momentos em que não trabalhamos?

 

Não pode ser. Chegar a algum lado não pode ser só viver para trabalhar. Viver para chegar exausto ao final do dia e, não tendo tempo para descansar, ter a certeza de que no outro dia será necessário começar tudo outra vez. A vida não é (só) isto. O resumo da tua história não pode ser o teu currículo. O resumo da tua história tem que incluir a profundidade com que conheces as tuas pessoas; as raízes que colocas nas coisas que dizes e fazes; as máscaras que escolhes nunca colocar porque não há nada mais bonito do que aquilo que é verdadeiro; o que viste do mundo e não calaste; as vezes que fizeste rir os outros quando não tinham grandes razões para o fazer; as vezes em que escolheste a tua família em primeiro lugar; as vezes em que amaste alguém que não conhecias de lado nenhum e que não tinha nada para te oferecer; as vezes que te esqueceste de ti para salvar alguém; as vezes em que tiveste a coragem para pedir ajuda; para saltar fora; para ir mais além; para sair de cena quando já não era o tempo de estares ali.

 

Quem vive para trabalhar não vive nada. E nós estamos a viver cada vez menos. Não sei se temos consciência disso ou se nos convém ter essa perceção. Trabalhar é mais fácil do que ser feliz.

tags: Marta arrais

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail