«A morte é sempre uma coisa nova»

Crónicas 8 janeiro 2020  •  Tempo de Leitura: 2

Esta frase foi-me dita em forma de provérbio por uma professora na faculdade. Sempre que terminava as suas aulas, lia-nos uma frase. Não era uma frase qualquer. Eram palavras que se juntavam para nos dizer verdades importantes. Hoje, escolho, exatamente, um desses pensamentos: «a morte é sempre uma coisa nova».

 

Como é que alguém escolhe escrever sobre a morte na primeira semana do ano? É para chatear? É para lembrar que a vida não é (ou não pode ser) assim tão boa? É para deixar as pessoas tristes? Não. Não é.

 

Na verdade, a morte tem uma costela de toupeira e, por isso, pouco lhe importa se estamos na primeira semana do ano, na última, na penúltima ou exatamente a meio do calendário. A morte não tem olhos nem quer ver. Se visse, talvez não escolhesse tão mal. Dizemos nós. Que achamos ser melhores juízes do que a própria vida.

 

Há qualquer coisa na morte, por muito que a queiramos varrer para debaixo de todos os tapetes, que nos lembra da vida. Quando sabemos da partida de alguém mais ou menos querido, mais ou menos mediático, há qualquer coisa dentro de nós que se apaga, mas também há qualquer coisa que se acende. O que se acende é bastante mais importante. Acende-se uma luz que nos grita que é preciso estar atento. É preciso tentar viver muito (e bem!) antes que a morte venha, também, para nos apanhar!

 

A morte é sempre uma coisa nova. E não deve ser encarada com a falta de respeito que às vezes vemos. A morte é sempre difícil para alguém, ainda que esteja longe de mim e da minha porta. É sempre difícil de entender, de aceitar, de guardar dentro do coração.

 

Na realidade, e quando já nos é permitido estarmos distantes o suficiente, sabemos que a morte pode levar tudo, mas não conseguirá nunca levar as memórias e o que se sente pela pessoa que parte.

 

Enquanto andamos por aqui, vale a pena cuidar de quem cá anda também. Afinal, só o amor pode vencer todas as mortes.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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