A Lâmpada do Advento
Na pequena aldeia de Vale Sereno, o inverno chegava sempre mais cedo do que nos outros lugares. As manhãs eram cinzentas, e o nevoeiro pousava nos telhados como um velho lençol esquecido. As pessoas caminhavam depressa, encolhidas nos casacos, como se a estação fria lhes roubasse também a esperança.
Mas havia uma casa diferente — a de Dona Ester.
Ester tinha já mais de oitenta anos, e ninguém se lembrava de a ter visto triste. Era conhecida por cuidar das plantas mesmo no frio, por acender sempre uma pequena lâmpada à janela ao anoitecer e por sussurrar orações enquanto mexia a sopa.
Na primeira semana do Advento, como todos os anos, Ester colocou a sua velha coroa de ramos sobre a mesa. As quatro velas tinham alturas desiguais, mas ela gostava assim: dizia que a fé também era feita de imperfeições.
Nessa tarde, ouviu-se uma leve batida à porta.
Era Samuel, um rapaz de doze anos, tímido e de olhar inquieto.
— Dona Ester… posso ficar um bocadinho?
Ela sorriu e abriu a porta, como quem abre o coração.
— Claro, meu filho. Aqui ninguém chega por acaso.
Samuel entrou e sentou-se à mesa, olhando a coroa de Advento como se fosse um tesouro.
— A minha mãe anda muito cansada. O meu pai está longe. Às vezes parece que esta casa está tão escura…
Os olhos marejaram, mas ele desviou o rosto.
Ester acendeu a primeira vela.
— Sabes, Samuel, o Advento começa sempre com uma pequena luz. Não resolve tudo, mas mostra o caminho.
O rapaz ficou alguns minutos em silêncio, olhando para a chama que tremeluzia suavemente.