Não estava à espera disto!

Crónicas 23 julho 2025  •  Tempo de Leitura: 2

Seria incrível se vida se pudesse fazer prever. Se nos brindasse todos os dias com o mesmo conforto, com o igual de cada momento, com os poucos sobressaltos que gostaríamos. Mas isso não seria real, não nos faria crescer ou reposicionar-nos e, provavelmente, também não nos deixaria espaço para dar valor e agradecer o que temos de bom e de certo.

Só que a verdade é que viver o inesperado ou ser surpreendido com uma notícia que nos desarruma por dentro, custa. Dói-nos a impossibilidade de nada poder fazer para evitar o que acontece. Custa-nos não ter compreendido os sinais prévios que avisavam mais ou menos sonoramente sobre a “tempestade”.

E quando recebemos um diagnóstico ou uma notícia dolorosa que nos faz reavaliar tudo, há qualquer coisa dentro de nós que se suspende. Que trava. Que fica em ponto morto. Que paralisa. E nesse silêncio gritante e audível e, por uma fração de segundos, abrandamos na nossa capacidade de compreender, de esperar, de dar sentido, de aceitar.

As frases:

“Não estava à espera disto” ou “Como é que isto foi acontecer?” trazem-nos o espanto de quem preferia ter ficado refém da normalidade do costume.

Não vamos encontrar explicações para o que nos acontece, na maioria das vezes. A vida tem o seu “quê” de aleatoriedade que tanto nos pode fazer expandir o coração como torná-lo pequeno (de tão amachucado). Mas há algo (mais importante que explicações ou razões) que podemos encontrar: espaço e tempo para sentir e acomodar a dificuldade do novo. Espaço para respirar fundo e perceber os impactos internos do que nos aconteceu. Tempo para digerir, acalmar e sossegar novamente.

Nada disto se faz de um momento para outro.

E nada disto se deve fazer sozinho.

Enquanto a vida teima em surpreender-nos e, às vezes, em tirar-nos o chão debaixo dos pés, que nos sobre sempre a certeza de estarmos acompanhados.

Que não nos faltem mãos para nos suster e braços para nos agarrar. Haja o que houver.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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