O que a vida não nos ensina
A vida não nos ensina a perder.
Não nos diz como nos despedimos. Não nos explica como fazemos o luto de um filho. De dois filhos.
Não nos explica nem nos deixa instruções sobre como continuar quando tudo se apaga. Quando as cortinas se fecham. As possibilidades se tornam estéreis e quando já não sabemos quem (ou o que) somos.
Não nos diz como continuamos quando tudo é difícil ou como se acendem velas quando, à nossa volta, desceu a maior escuridão.
Temos pouca literacia sobre a vida. Não nos foram dados manuais prévios ou preparatórios que nos munissem de ferramentas para navegar os dias.
Mas foi-nos dado o amor. Sem grandes explicações nem textos muito desenvolvidos. Foi-nos dado o amor. A capacidade de ver que o pequeno e o ténue pode tornar-se essencial quando não temos nada. A certeza de que a bondade supera o escárnio, a intolerância e a violência, se nos dispusermos a ver bem.
Foi-nos dado o amor e é essa a única coisa que nos salva e nos resgata. É o amor que nos dá lenha ao fogo que mora no coração. Que nos dá combustível para sobreviver. É por amor que vamos quando não sabemos por onde ir. É por amor que aguentamos quando não temos força para acreditar no Céu que desliza por cima das nossas cabeças.
É por amor que vale a pena viver. O amor de quem nos dá sem esperar receber. O amor de quem se entrega ao que vier. De quem nos vem salvar mesmo quando nem sabemos que precisamos. O amor de quem nos vê quando nem sabíamos que precisávamos de ser vistos.
É por amor que ficamos. Que partimos. Que nos gastamos sem saber que ainda tínhamos tanto para dar. É a única esperança que podemos ter quando tudo o resto parece distópico, estranho e sem rumo.
Só o amor permanece, quando tudo falha.
E se formos amor, que hipótese teremos de falhar?