Nem tudo está perdido!

Crónicas 21 maio 2025  •  Tempo de Leitura: 3

Nem tudo está perdido quando sabemos de que lado temos o coração. Quando sabemos as regras que nos regem a alma e o(s) sentido(s) internos. Quando temos certezas sobre os nossos princípios, valores e sobre as coerências que nos habitam, sabemos para que lado estamos a remar e não nos compadecemos do tumulto exterior que, não raras vezes, quer invadir-nos e contaminar a nossa pacificação interna.

 

Mas, sendo assim, vivemos então como que alheados do que se passa e não permeáveis às ondas externas?

 

Seria bom, talvez. Ou de vez em quando. Contudo, não é assim que a vida se processa. Não podemos isolar-nos de sentir o que a realidade lá fora nos mostra.

 

Há, em nós, uma tendência natural para a empatia que, muitas vezes, desconsideramos ou calamos para nos proteger ou para nos obrigar a andar para a frente. E obviamente que nos é pedido que sintamos. Que façamos parte do que acontece à nossa volta.

 

Ainda assim, é importante não perder a nossa bússola interna.

 

Levantar as bandeiras da paz e do bem e agitá-las acima da cabeça (e na direção do céu) quando vemos que começam a ser hasteadas bandeiras de discórdia, de discriminação ou de inflamação crónica de egos.

 

Não podemos fazer muito, mas, na nossa pequena bolha e no nosso pequeno círculo, podemos sempre fazer tudo. O tudo que for possível. O tudo que nos compete.

 

Se cada um de nós fizesse tudo o que pode, teríamos um mundo ligeiramente diferente.

 

Se cada um honrasse os seus princípios e fosse coerente com aquilo que apregoa, teríamos menos tensão nos diálogos, nas tentativas de mostrar superioridade ou esperteza, na forma de estar em comunidade.

 

Se cada um de nós buscasse fazer simplesmente aquilo que está ao seu alcance e o pouco que lhe é permitido fazer, teríamos (certamente) um mundo a rimar com uma maior inteireza e bondade.

 

Mas preferimos ir atrás dos que falam alto, vestem bem, apregoam bons costumes mas trazem ao peito as máscaras dengosas que nos farão cair a todos.

 

Preferimos dar prioridade às aparências, às ilusões, aos discursos vazios, ainda que bem articulados. Preferimos dizer que não somos. Nem fazemos. Nem fizemos. E negar a nossa própria raiz se daí nos chegar algum tipo de benefício.

 

Era tão fácil, e tão simples, se cada um fizesse (apenas e só!) o que lhe compete.

 

E é por isso que, enquanto escolhermos o caminho do que somos, estaremos sempre salvos. E nada estará perdido.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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