Os amigos que tomam as nossas dores

Crónicas 6 abril 2023  •  Tempo de Leitura: 2

Com certeza que já te incomodás-te com a dor dos outros. Aquelas dores que ferem os nossos amigos e familiares de tal modo que passam também a ser nossas? Pois é, às vezes preferia que assim não fosse. Preferia desligar e não me perturbar com o que não me diz respeito, nem incomodar com o que não foi comigo…mas não consigo! Só que o peso começa a tornar-se insuportável. Carregamos as nossas mágoas e as mágoas de quem gostamos e sim… tomamos as suas dores.

 

Zangamo-nos com quem eles estão zangados, barafustamos com quem eles barafustam e revoltamo-nos perante as injustiças que eles sofrem. E sofremos!

 

Enquanto o mundo continua a girar e a ignorar as nossas dores, ficamos com vontade de gritar e mostrar em público que os nossos amigos não estão sós, nós estamos com eles e sentimos as suas dores.

 

Podemos correr o risco de ser injustos, pois ninguém é perfeito, mas somos LEAIS. Por vezes sofremos o escárnio e o desdém de quem não nos conhece e nos avalia como se nos conhecesse desde sempre. Escondemo-nos na capa do politicamente correto que nos obriga a ser hipócritas para não piorar as coisas, para não ampliar problemas que não nossos. Mas isso não será tão só: deslealdade encoberta em silêncios e disfarçada pela desculpa “não tenho nada a ver com isso”? Quando TU és posta à prova e alguém questiona as tuas atitudes não gostavas de ter quem ”tomasse as tuas dores”? Alguém que te defendesse? Alguém que tivesse a coragem de quebrar o silêncio e pôr o dedo na ferida? Pensa bem, será que tens assim tanta gente capaz de fazer isso por ti? Será que temos assim tantos amigos que nos perguntem quais as nossas dores e nos ajudem a suportá-la?

 

E tu amiga, quais as dores que tomaste como tuas?

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

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