Devemos agradecer tudo?

Crónicas 5 janeiro 2022  •  Tempo de Leitura: 2

Ter uma atitude de gratidão perante aquilo que nos vai acontecendo é um desafio tremendo. É profundamente mais fácil agradecer as coisas boas que temos, os momentos de grande alegria, as conquistas, o concretizar de um sonho, o erguer de um projeto que se revela bem-sucedido e profícuo. Mesmo assim, temos tendência para não agradecer quando vivemos o bom. Quase como se não tivéssemos tempo para isso. Como se fosse obrigação da vida dar-nos tudo o que há de melhor. E logo a nós que somos tão bons e que fazemos tudo tão bem feito.

 

Mas adiante. Difícil mesmo é agradecer ou ter uma atitude de maior respeito por aquilo que nos acontece de mau. Pela doença. Pela perda. Pelo sonho que ficou só no pensamento porque ninguém acreditou nele. Pelo trabalho que deixou de ser o que imaginávamos. Pelos inúmeros desafios a que somos chamados, diária e repetidamente.

 

Como é que podemos agradecer o que é mau? Que sentido é que isso tem?

 

Pode ter algum. Se quisermos olhar para os desafios como etapas, como degraus, como um momento que terá algo para nos ensinar, estamos a receber a oportunidade de viver um momento difícil. Estamos a agradecer, de antemão, o que não sabemos ainda que nos trará mais sabedoria, mais experiência, mais vida.

 

Se, depois do choque inicial, olharmos para o que nos acontece com a coragem de quem diz: o que é que eu tenho para aprender com isto? Como é que eu posso ser melhor depois disto? Como é que eu posso fazer melhor quando isto passar? … Talvez nos seja possível suportar melhor a dor do que nos acontece, as pedras que nos ferem os pés quando caminhamos.

 

Agradecer nem sempre é simples. Nem sempre é óbvio. Nem sempre é possível. Enquanto mergulhamos na espiral da alegria, parece desnecessário dar graças. E enquanto somos arrastados no ciclone da nossa mágoa, parece impossível ver um dia sem tempestade.

 

No entanto, e sempre que nos for possível, vale a pena colar este post-it pequenino no coração, do lado de dentro do peito:

 

Sempre que puderes, agradece.

 

Quando não puderes, fecha os olhos e tenta outra vez amanhã.

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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