És socialmente útil?

Cartas a uma amiga 2 agosto 2025  •  Tempo de Leitura: 2

Fomos formatados para trabalhar, cumprir horários e mostrar que somos economicamente sustentáveis e socialmente úteis. Muito bem! O problema surge quando isso é de tal ordem incutido que não sabes viver momentos de tranquilidade sem te sentires culpada. Se um dia tens a oportunidade de tirar uma tarde e simplesmente não fazeres nada parece estranho e acabas por te ocupar com coisas só para mostrar que o tempo é precioso e não pode ser desperdiçado.

Não estou a fazer nenhuma ode à preguiça, mas também não a faço à escravidão do trabalho, ou melhor da ocupação. Sim porque não é só o trabalho que nos ocupa. A ideia que tenho é que parece que temos de mostrar ao mundo que estamos sempre a fazer coisas e ocupados.

Não rara vezes quando falo com alguém essa me pessoa me conta as inúmeras tarefas que fez e ainda vai ter de fazer para justificar a sua pouca disponibilidade. 

E está tudo bem, mas se calhar para essa pessoa não está. 

Mas fica bonito sentirmo-nos super úteis sociavelmente e com a agenda super ocupada. Sei que às vezes não há alternativa, mas isso entranha-se de tal forma que se deixa de saborear o “dolce fare niente”.

Não temos tempo para ficar a olhar o vazio, ter uma boa conversa com alguém ou simplesmente passear.

Nem toda a gente pode sair cedo do trabalho ou simplesmente "deixar andar" as tarefas que o mundo nos impõe. Por isso admiro a geração que nos obriga a relaxar, a parar, a apreciar um fim de tarde sem ser de volta da roupa ou das panelas. Admiro os que se sentem na plenitude de que ESTAR não significa FAZER.

Nem sempre somos socialmente úteis, nem sempre somos economicamente produtivos mas devemos permitir-nos a equilibrar o nosso tempo de modo a que nos faça ver o mundo com mais alegria e menos condenação.

Não estou a dar medalhas à preguiça nem ao individualismo, mas a alertar para aqueles que olham para nós e nos avaliam pelo que fazemos e produzimos. Isso não me parece justo nem equilibrado.

Por isso, pára um pouco e hoje se puderes sai da caixa e atreve-te a seres o que quiseres sentir nem que isso seja: não fazer nada!

E tu amiga, o que não te apetece fazer?

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

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