A tua comunidade precisa de sentir a tua ausência.

Cartas a uma amiga 15 abril 2023  •  Tempo de Leitura: 2

Num dos períodos mais conturbados da minha juventude li um texto que cuja mensagem era esta ”a tua comunidade precisa de sentir a tua ausência” e por mais estranho que possa parecer, para mim fez todo o sentido.

 

Desde muito jovem que tive a sorte de me poder envolver em projetos para a comunidade e isso dava-me muito prazer, até ao momento em que parecia que a minha ação tirava o prazer a outros. Se era, ou não, para mim são águas passadas, mas senti o poder da inveja e da maledicência que, infelizmente, pode encontrar terreno fértil junto de algumas pessoas. De repente, começas a sentir um certo e estranho desconforto e por mais que aches que estás a fazer o correto com a melhor das intenções, os outros podem achar que estás a ter demasiado protagonismo. Se ao menos tivessem a frontalidade de o dizer diretamente e sem rodeios talvez, se evitassem conversas de “tascos” e “diz que disse”. Mas na altura, e por mais que tenha batalhado para me manter firme nas minhas convicções, tinha chegado a altura de me afastar. Retirei-me de tudo a que pertencia, mas nem um milímetro das minhas convicções. Fiz luto, fiz deserto e fiz caminho interior. Fez-me bem, mas não era a solução! Ausentar-me foi fundamental mas, virar as costas ao que gosto de fazer não estava nos meus planos.

 

Regressei à comunidade para ocupar o lugar que era necessário ocupar. Teria sido mais fácil manter a minha ausência, não voltar a ver quem me magoou, não me sujeitar a escrutínio público, mas isso era falhar com a minha responsabilidade como pessoa e como cristã e deixar um vazio e sentimento de falhanço. Tal como Jesus se retirou 40 dias para o deserto, acredito que também nós temos a necessidade de nos ausentar e de fazer notar a nossa ausência, sem medos de que outros tomem o nosso lugar, nem para mostrar que estamos zangados qual criança birrenta. Não!

 

Às vezes, precisamos de nos ausentar da nossa comunidade para a olhar de fora e perceber o que realmente ela precisa de nós.

 

Às vezes, precisamos de nos ausentar para olhar para dentro de nós e perceber qual o nosso lugar na comunidade.

 

E em alguma altura esses caminhos vão cruzar-se!

 

E tu amiga? Sentes que precisas de te ausentar?

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

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