O Caminho Possível

Crónicas 20 outubro 2025  •  Tempo de Leitura: 4

Nos últimos tempos, muito se tem falado sobre imigração. O que se deve fazer? O que se deve legislar? O que se deve permitir ou proibir? Muitas vozes, mas também muito ruído…

 

O que será mais urgente?

 

Não tenho dúvidas. É urgente uma verdadeira consciencialização. Consciencialização de que não somos espetadores passivos, mas protagonistas chamados a formar o futuro que ainda não é, mas que aí já está.

 

Consciencialização de que as pessoas não são objetos para usar, nem são máquinas para preencher os lugares vazios do mercado de trabalho, mas seres humanos com inteligência e sentimentos.

 

Consciencialização de que os nossos estilos de vida, de consumo e tantas vezes de desperdício têm consequências diretas nas vidas de outros.

 

Acolher não significa apenas aplicar normas ou regras. Significa, essencialmente, responder a uma questão: que tipo de humanidade queremos ser?

 

Devemos acabar com esta incoerência: precisamos de rejuvenescer o nosso país, um pouco como toda a Europa, mas temos medo do desconhecido. Precisamos de mão-de-obra, mas temos medo de acolher. 

 

Acolher não significa abrir as portas sem critério, mas sim distinguir tempos e responsabilidades. Há que criar estruturas adequadas e políticas responsáveis. Depois, há que saber promover e integrar os migrantes na nossa cultura e nas nossas regras civilizacionais, respeitando a alteridade e os Direitos Humanos.

 

E é aqui que a comunidade cristã tem e de ser inclusiva, capaz de ver na pluralidade de culturas e religiões um recurso. Criar nas nossas aldeias e cidades, paróquias que sejam lugares de encontro. Não são precisos movimentos fantásticos, mas gestos simples e quotidianos: conhecer pelo nome, criar ocasiões de relacionamento e conhecimento mútuo.

 

A presença de migrantes e refugiados não empobrece, mas renova comunidades, abre horizontes interculturais e obriga-nos a repensar sobre os nossos valores e as nossas vivências. 

 

O Papa Leão XIV escreveu na mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, duas frases que me marcaram imenso: «A sua coragem e tenacidade são testemunho heroico de uma fé que vê além do que os nossos olhos podem ver e que lhes dá força para desafiar a morte nas diferentes rotas migratórias contemporâneas»; e «Os migrantes e refugiados lembram à Igreja a sua dimensão peregrina, em  permanente busca da pátria definitiva, sustentada por uma esperança que é  virtude teologal. Sempre que a Igreja cede à tentação da  “sedentarização” e deixa de ser civitas peregrina – povo de Deus peregrino rumo à pátria celeste, deixa de estar “no mundo” e torna-se “do mundo”.» 

 

E não podemos esquecer que, se um migrante fica à margem, não se tornará num verdadeiro cidadão.

 

Um futuro feito de portas fechadas não pode chamar-se futuro. O verdadeiro futuro é aquele que acolhe, que integra, e que assim constrói a paz.

 

É o único caminho possível, porque ou construímos um futuro com todos, ou não haverá futuro para ninguém!

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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