O mundo pensa?

Crónicas 7 outubro 2025  •  Tempo de Leitura: 4

Meditando sobre a realidade atual do mundo, parece-me que as pessoas, cada vez menos, refletem sobre o presente e o futuro. Hoje, o mundo improvisa. Creio que o maior problema que temos agora seja a superficialidade.

 

Com a cumplicidade das redes sociais, que ganharam destaque nas últimas décadas, ouvimos muito ruído, demasiado barulho, mas poucas ideias. Não admira que até os governantes improvisem. A fragilidade do pensamento político, e não só, é evidente quando se trata de paz, só pensamos em rearmamento, em defesa armada. Mas a mesma fragilidade também é evidente quando nos deparamos com a emergência ambiental, a crise demográfica ou questões éticas como o fim da vida, ou o escândalo da pobreza. Não há vontade de pensar profundamente sobre nada. Age-se conforme a onda digital, ou seja, segundo o que as massas abraçam...

 

Esta crise cultural é mais do que evidente na Europa e nos Estados Unidos. Queríamos acreditar que a única regra da vivência em comum era o dinheiro e que não era necessário qualquer outro valor. É uma mentira desumana e desumanizadora. O coração do Homem precisa de mais, de muito mais. Por isso é que o regressar da guerra à Europa assusta.

 

Assistimos a um crescimento técnico que não foi acompanhado por um desenvolvimento da reflexão sobre o Homem ou sobre o pensamento moral. Acreditamos que a tecnologia e o progresso eram a mesma coisa. O verdadeiro progresso envolve o bem estar geral dos seres humanos e afeta muitas outras dimensões da vida, tanto relacionais como até espirituais.

 

Ontem, o Patriarca de Lisboa a falar com alunos de um colégio em Lisboa dizia que, se a paz fosse apenas uma construção humana, depois da criação da ONU, depois de tantas reuniões, conferências e acordos, já a teríamos na Terra. Entretanto vivemos em demasiados cenários de guerra. Concluiu que a paz é também um dom. Para os crentes, é um dom divino. É Deus que nos pode dar a verdadeira paz.

 

Portanto, ter esquecido isso, ter abandonado a reflexão sobre a humanidade e o seu propósito, ter deixado de nos perguntar quais as ferramentas boas e quais as más, é o verdadeiro fracasso do Ocidente. Corremos o risco de perder o que temos porque não consideramos que a paz e o bem-estar não são permanentes. São um processo, um trabalho contínuo.

 

É certo que a Europa vive hoje uma certa secularização espiritual, porém temos que voltar àquele trabalho interior, da luta contra o egoísmo, o ódio, o desejo de vingança, a indiferença e o desprezo pela vida. Não podemos esquecer que a liberdade implica a assunção de responsabilidade ética/moral.

 

Neste Outubro, Mês da Missões, e na Semana da Educação Cristã, é fundamental relembrar que os cristãos têm o dever de educar as consciências, encaminhando-as para algo pelo qual valha a pena viver. Não apenas na Catequese ou nas aulas de EMRC, mas fundamentalmente com o testemunho de vida.

 

Creio que o destino do ser humano dependerá do papel que reservarmos para a educação. Educar os jovens é oferecer-lhes Sinais de Esperança. Enquanto o fizermos, continuaremos a ter a esperança de que existe na humanidade um desejo de paz, de fraternidade, de respeito por toda a vida humana e de reflexão, que resiste à superficialidade que se instalou e à ideia de que a liberdade significa dar satisfação a todas as paixões das massas.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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