O Homem sempre procurou ser Rei, ser Deus
"O Homem gostaria de ser Deus", dizemos nós quando vemos a ciência a redesenhar o ser humano por meio das tecnologias aplicadas, não a máquinas e computadores, mas ao próprio corpo humano. - Reflexões de um domingo de Cristo Rei.
Na realidade, a humanidade sempre procurou ser Deus. Na Bíblia somos tratados como filhos de Deus, criados «à sua imagem e semelhança». E, humanamente falando, os filhos sempre quiseram ser como os seus pais, ou até melhores.
E então, que mal há em tentar prevenir as milhares de doenças genéticas que ameaçam o desenvolvimento dos seres humanos, gerando malformações irreversíveis nas crianças que nascem e dores terríveis nos pais? E que mal há em prevenir a degeneração das células que leva um ser humano a viver seus últimos anos sem consciência, dominado pela demência, com o consequente tormento para os seus familiares e, por vezes, com um ódio profundo pela vida?
Verdadeiramente, não há nenhum mal. Antes pelo contrário, é um bem desejável.
Parece, portanto, que não há nada a temer e que devemos receber com alegria as novidades da ciência. No entanto, quando ouvimos que bilionários como Musk querem criar humanos geneticamente modificados, ficamos preocupadíssimos.
Este conflito resulta do facto de sabermos que a humanidade não se resume ao conhecimento e à ação, mas também à consciência e à dúvida, ou seja, à reflexão sobre o uso do conhecimento adquirido, que pode ser empregado de diversas maneiras: para o benefício de todos ou para o privilégio de poucos; para curar doenças ou para compilar um catálogo de características para venda; para o bem comum ou para o lucro privado.
O problema é que com a crença que temos nas nossa capacidades e no poder da ciência, tendemos a esquecer que o bem e o mal realmente existem e que nem tudo o que pode ser feito é-nos verdadeiramente favorável e, como consequência, permitido.
O conhecimento deve ser acompanhado pela consciência. A ciência pela ética. A necessidade da ética é evidente quando consideramos que uma coisa é usar a biotecnologia para combater doenças genéticas, a outra é selecionar a cor dos olhos, a altura e a inteligência...
Somos inteligência, certamente, mas não só. Também somos sentimentos, paixões e temos a necessidade de sentido. A inteligência oferece-nos o conhecimento, mas é o sentimento que nos dá o significado e o sentido.
«Se os príncipes e governos legitimamente constituídos tivessem a persuasão de que regem menos no próprio nome do que em nome e lugar do Rei Divino, é manifesto que usariam do seu poder com toda a prudência, com toda a sabedoria possível. Ao legislar e na aplicação das leis, como haveriam de atender ao bem comum e à dignidade humana de seus súbditos! Então floresceria a ordem, então víramos difundir-se e firmar-se a tranquilidade e a paz.»
Papa Pio XI, Encíclica Quas Prima, 1925, n 16
A liberdade é um bem precioso, mas frágil.