Há quem defina a paz como uma pausa entre as guerras. E sabemos que existem muitos tipos de guerra. Por isso, uma pausa é muitas vezes aproveitada para recuperar e descansar. Porém, evitaríamos mais guerras no futuro se a pausa fosse para pensar.
Pensar em quê? Pensar porquê? Um pensar em coisas úteis? E as inúteis? Não valeria mais a pena agir em vez de pensar? Não será pensar uma desculpa para não agir? Penso que todos imaginamos as consequências de agir sem pensar. Por isso, pensar até o que é inútil poderá ter o sua utilidade.
Vivemos numa época em que é difícil encontrar um espaço e tempo a dedicar a uma pausa para pensar. Essa dificuldade não existe apenas pelas muitas coisas que temos para fazer. Quantas vezes esse espaço e tempo são consumidos pelo consumo excessivo de informação? Creio que, no fundo, quando consumimos informação, subtilmente, o objetivo interior é o de parar “de” pensar para não ter de parar para pensar.
Uma das características mais humanas é a nossa capacidade para pensar. Temos um cérebro para quê? Sabiam que o ser humano tem, em média,
6000 pensamentos por dia quando estamos acordados, assumindo que dormimos 8h? Pensar é uma inevitabilidade. Por que razão haveríamos de fazer uma pausa propositadamente para pensar? Eu diria — para pensar profundamente.
Uma pausa para pensar profundamente ajuda a filtrar o ruído ambiental que procura distrair-nos e desviar-nos dos pensamentos que nos ajudam a avaliar o que dá sentido e significado à nossa vida.
Quem se habitua a fazer pausas para pensar diminui o risco de tomar decisões precipitadas. É alguém que aprende a medir as consequências das decisões que toma tendo em conta a sua vida, mas também a dos outros. É alguém que valoriza a pausa como o espaço que permite distinguir entre palavras consecutivas encontrando sentido no texto escrito pela vida quotidiana.
É verdade que uma boa parte de nós somos trabalhadores do conhecimento por estarmos a maior parte do dia a pensar. Logo, é natural o desejo de fazermos uma pausa no pensar para descansar a cabeça. Pois, quem descansa garante que avança. Quem não pára uma vez por dia, pára um dia de vez. E no pensar, por vezes, são precisas várias paragens. Porém, o que temos assistido é à diminuição do tempo consciente de estarmos a pensar profundamente.
Se a paz é pausa, ao fazermos uma pausa abrimo-nos à possibilidade de encontrar a paz. Fazer uma pausa para pensar revela-se, assim, um passo no caminho de encontro com o nosso interior para que esse encontre a paz. As guerras começam no coração humano quando se fecha sobre si mesmo. Curiosamente, a pausa para pensar possui o efeito inesperado de nos abrirmos aos outros. Por que razão? Creio que seja por nos tornar serenos.