O sentido do deslumbramento.
Somos seres relacionais! E é a qualidade de nossas relações com o mundo que guia o nosso autoconhecimento, ou seja, a descoberta do que nos torna únicos e irrepetíveis.
E é aquela sensação de espanto que dita a qualidade dessas relações. Chama-se atenção seletiva, um fortalecimento dos nossos circuitos neuronais que é diferente em cada um de nós. Aqueles que não vivenciam o deslumbramento buscam alternativas. Muitas vezes substâncias, não relacionamentos mas vícios, dependências.
Se esse sentido não funcionar, o sentido do deslumbramento, a realidade torna-se muda, sem sentido e neutra. Em vez de pertencer, sentir-se amada, a pessoa desaparece nas coisas ou nos outros, a ponto de não saber mais quem é e o que quer.
Aqueles que conhecem e cultivam o espanto, no entanto, encontram substância, isto é, a vida que os sustenta, conexões que os inspiram e os identificam. Eles não desaparecem nas coisas ou nos outros, mas sabem como confrontar o mundo como protagonistas.
Difícil de perceber? Se olharem para as vidas de Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati perceberão.
Agora que reinicia a escola, é preciso despertar os nossos alunos para esse espanto, para esse deslumbramento. A escola não é apenas uma construção física, mas deve ser, por excelência, o espaço e o tempo da história onde encontramos o que nos deslumbra.
A escola acontece onde quer que ocorra o espanto, isto é, um encontro real com o mundo. Por essa razão, o primeiro dia de aulas, não deverá ser o início de uma sucessão de horas a serem suportadas em antecipação às próximas férias, mas uma metáfora para o sentido do deslumbramento.
Como podemos fazê-lo?
Podemos dar um bom exemplo compartilhando o encantamento que nos levou a querer contar aos outros sobre a alegria da filosofia, da química, da arte, da religião, da biologia, da mecânica, da matemática e de todas aquelas coisas que poderíamos chamar de materiais do espanto.
Fará perceber aos alunos que, também eles têm um futuro e que a vida lhes pertence, que a podem e devem construir. E, porque quando somos tocados por algo, começamos a responder. A responder à vida que exige o nosso cuidado. A responder à nossa vocação.
Quem não sente encantamento não pode sentir amor por si mesmo e pela vida, porque não sabe o que ama e não sabe o que o chama. É por isso que devemos dizer aos nossos alunos onde o encantamento nos tocou, afetou e dominou. Não tenhamos dúvidas que, mais que uma lição, uma aula, eles procuram em nós uma escolha, uma vocação, um futuro, uma responsabilidade.
Surpreendido? Afinal, quando nos apaixonamos por alguém, não foi sua maneira única de estar no mundo que nos seduziu?
Como li numa rede social:
«Hoje o verdadeiro milagre não é o Carlo ser Canonizado, mas acreditar que é possível viver a santidade.»
Não é deslumbrante?