Como viver a fragilidade?

Crónicas 22 julho 2025  •  Tempo de Leitura: 3

Vivemos num tempo em que se exalta a eficiência, o desempenho e o sucesso como se fossem virtudes absolutas. No entanto, todos nos deparamos com limitações: cansaço, dúvida, fragilidade, saúde mental e isolamento quando mais precisamos.

Como podemos entender isto à luz do Evangelho?

Para alguns, crentes ou não, falar da fragilidade de Jesus pode ser perturbador, senão mesmo irreverente. Porém, a fragilidade não faz parte da nossa humanidade? Jesus de Nazaré não habitou esta fragilidade sendo verdadeiro homem?

Há fragilidades que surgem dentro de nós, sobre as quais pouco ou nada podemos fazer, assim como há fragilidades que surgem das nossas relações. A única coisa necessária é que aprendamos a reconhecê-las e a aceitá-las, como aquilo que nos faz ser quem somos: imperfeitos, limitados, caminhando para uma dimensão da qual ainda pouco ou nada sabemos...

Na carta aos Gálatas, Paulo diz simplesmente de Jesus que «nasceu de uma mulher». Só isso. Nenhuma referência a Maria ou José. Uma mulher que O colocou na fragilidade. A fragilidade de um recém-nascido, necessitado, como todos os recém-nascidos, de cuidados e atenção.

A sua mãe deu-lhe um corpo: que conhecerá o cansaço, a fadiga, a fome, a sede, a angústia, a desilusão... As limitações que fazem parte da vida de todos nós.

Um homem familiarizado com a raiva e a indignação. Que não tem medo de expressar aquilo que muitos de nós hoje consideraríamos um sinal de fraqueza. Chora pela morte de um amigo. Luta por aqueles que não têm voz, por aqueles rejeitados. Não tem medo das mulheres que o amam e que, por elas, se deixa amar, cuidar e tocar, demonstrando uma abertura considerada inadequada naqueles tempos.

Mas a Sua fragilidade assume uma espantosa intensidade no homem que enfrenta a cruz. No Jardim das Oliveiras, pouco antes da sua prisão, a fragilidade de Jesus explode com força: «Pai, se quiseres, afasta este cálice de mim; porém não a minha, mas a Tua vontade se faça.» (na versão de Frederico Lourenço, que está mais próxima do texto original).

Portanto, Jesus ensina-nos a não rejeitar as limitações e a fragilidade. Rejeitá-las levaria a cair naquela ilusão de omnipotência que se expressa no eu sei e no eu posso. Jesus mostra-nos um Deus que não teme a fragilidade e as limitações. Aceitar as limitações é o primeiro passo para nos reconhecermos como humanos e estarmos ao lado dos irmãos que partilham connosco a fragilidade e as limitações de sermos homens e mulheres em caminho.

A fragilidade não é algo a esconder, mas sim a acolher. Por vezes pensamos que parecer cansado ou vulnerável é um sinal de fraqueza. Na realidade, é precisamente aí, nas nossas limitações, que começamos a ser verdadeiramente humanos. É o ponto em que deixamos de fingir e começamos a viver. É aí que Deus nos salva. É o Emanuel, o Deus connosco.

Claro que não é fácil. Mas é autêntico.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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