Um grito de raiva a um Deus “distante”?

Crónicas 8 julho 2025  •  Tempo de Leitura: 3

Nos últimos dias, vivemos a experiência forte da morte de alguém famoso. Tenho recordado com frequência em orações e reflexões pessoais a morte de tanta gente que me é querida. Recordo com frequência as mães que perderam os seus filhos, a começar pelas minhas avós...

São as circunstâncias naturais da vida que simplesmente acontecem, mas que deixam uma marca profunda em mim e me ensinam algo mais sobre a vida, a sua beleza, a sua preciosidade. 

Recordo uma mãe que perdeu o seu filho, exatamente há 50 anos. As décadas passam, mas o amor permanece. Uma mãe cujo filho morre não se resigna e ainda hoje sente a dor como no dia em que o fruto do seu ventre partiu. Talvez tenha conseguido reinterpretar a tragédia que a atingiu de outra forma, mas o seu coração tem uma ferida que não cicatriza.

Conheço várias pessoas a quem a vida exigiu forças para enfrentar esta dor. Não tenho respostas fáceis para lhes oferecer e, mesmo que tivesse, teria muito cuidado para não o fazer!

Portanto, não ensinei nada a estas pessoas, mas aprendi, e como aprendi. Ensinam-me a beleza do amor, de um amor que continua em forma de memória e de oração, da Doçura Divina que consola, da fé que não tira o sofrimento, mas mostra o caminho para o ultrapassar.

Quando a morte envolve a nossa vida, privando-nos dos nossos afetos mais queridos, vivemos todo o seu drama. Em certas situações, até a fé parece já não ser suficiente e o tão desejado consolo corre o risco de parecer uma miragem. Quase incrédulos e perdidos, apercebemo-nos de que a morte é verdadeiramente a maior inimiga do homem! Assim, questões profundas surgem na nossa mente: Estamos realmente destinados a perder-nos no nada? Porquê amarmo-nos, se depois temos de nos separar de forma tão dolorosa?

A Palavra de Deus, porém, não nos abandona nestas passagens dolorosas da existência. São Paulo, por exemplo, é-nos de grande ajuda quando escreve: 

«Ó morte, onde está agora a tua vitória? Onde está o aguilhão? O poder da morte é o pecado e o que dá poder ao pecado é a lei. Graças a Deus que nos deu a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo!» (1 Coríntios 15, 55-57).

Rezo por estas mães e pais que me ensinam a transformar a dor em amor. Sim, voltarão a ver os frutos do seu amor, lá onde Deus os guarda, lá onde ninguém os pode separar para sempre.

 

p.s.: Por Itália, sábado dia 5, a notícia do suicídio do padre Matteo Balzano de 35 anos. Nada se sabe sobre os motivos que levaram um jovem sacerdote descrito como entusiasmado e dedicado ao ministério a este gesto extremo.

«Rezemos por padre Matteo, jovem sacerdote que deixou esta vida. Que o Senhor lhe dê a paz, a misericórdia e a luz eterna. E que acompanhe com amor todos os sacerdotes que carregam fardos invisíveis no seu coração.»

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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