Ser para o Outro
«É o sacerdote que continua a obra da redenção na Terra. (...) Se alguém compreendesse bem o sacerdote aqui na Terra, morreria não de medo, mas de amor. (...) O sacerdócio é o amor do coração de Jesus.»
João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars
Na sexta feira passada celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, Dia de Oração pela Santificação dos Sacerdotes. E em Lisboa, neste domingo, aconteceram as ordenações sacerdotais.
A espiritualidade do Sagrado Coração toca a misericórdia de Jesus para com o ser humano, a quem oferece a salvação através dos sacramentos e do ministério do sacerdócio.
Escreveu o Papa Paulo VI: «Um sacerdote, não pertence a si mesmo; e a sua própria vida espiritual está condicionada pela comunhão com os seus irmãos, aos quais se dirige o seu ministério».
Há três palavras que um sacerdote nunca deve esquecer: Vocação, porque foi chamado, Ordenação, porque através dela obteve do Espírito Santo a transmissão do poder espiritual, e a Missão, porque o sacerdócio está destinado à Igreja, à comunidade, aos irmãos, ao mundo.
A expressão “o sacerdócio é o amor do coração de Jesus”, do Santo Cura d’Ars, tornou-se numa bela síntese da espiritualidade sacerdotal. Os sacerdotes são convidados a viver e a agir com uma alma sacerdotal, isto é, com os mesmos sentimentos de Cristo.
Na linguagem bíblica, o coração indica o centro da pessoa, a sede dos afetos, da vontade e das decisões. Falar do Coração de Jesus significa referir-se à totalidade da sua pessoa, ao seu amor pelo Pai e pela humanidade. O sacerdócio nasce precisamente deste coração. O sacerdote, configurado a Cristo pelo sacramento da Ordem, é chamado a ser presença viva deste amor: não apenas a falar dele, mas a torná-lo visível e operante na história.
Ao padre é confiado, entre muitos outros, um desafio que hoje representa um verdadeiro sinal dos tempos: o sacerdócio, como amor do Coração de Jesus, expressa-se numa vida de serviço humilde, muitas vezes oculto, feito de escuta, acompanhamento, partilha das alegrias e das tristezas do ser humano. Chamado a ser amigo de Cristo, escolhido e enviado a ser sinal e instrumento do amor divino, sobretudo em situações de fragilidade, sofrimento e busca de sentido.
Por isso, pedimos aos sacerdotes que voltem a anunciar a todos uma visão responsável da vida, como diria o saudoso D. Tonino Bello: «Não vos fecheis, circunscrevendo a vossa vida em pequenas áreas egoístas, invejosas, incapazes de se abrir aos outros. Apaixonai-vos pela vida, porque ela é muito doce. Mordei a vida!»
Há ainda um traço distintivo que exprime genuinamente a natureza paternal e comunitária do ministério sacerdotal: o padre é chamado a viver e a promover a comunhão, a ser construtor da unidade na comunidade. É convidado a caminhar com a sua própria comunidade, ao lado de cada um, ao ritmo do mais lento e do mais frágil.