Paulo, gostas do novo Papa?

Crónicas 10 junho 2025  •  Tempo de Leitura: 6

Ainda ontem, novamente, fui surpreendido por esta questão. Uma pergunta demasiado simples, demasiado madrugadora. Há muito mais por detrás da lógica do like das redes sociais.

 

Aliás, se pensarmos bem, não é uma pergunta assim tão absurda. Para a nossa atual cultura, onde o “like”, o gosto, o julgamento imediato, baseado em perceções instintivas, tornou-se um critério de verdade. Porque, se eu gosto de uma pessoa, ela já goza de um bom crédito inicial. No entanto, acredito que deveríamos pensar, analisar esta questão a outro nível.

 

Porém, a recorrência da pergunta nos últimos dias, obrigou-me a refletir seriamente sobre o assunto.

 

Passou, pouco mais de um mês, desde o 8 de Maio da sua eleição. Porém, já ouço alguns dos católicos mais empenhados e mais atentos à dimensão social da mensagem cristã queixarem-se do Papa Leão XIII, dizendo que não tem a força, nem a coragem do Papa Francisco. Quase que apostam, devido à intenção do atual Papa em harmonizar e satisfazer todas as diferentes correntes da Igreja, que será um pontificado marcado por um inevitável efeito anestesiante.

 

Será assim?

 

Verdadeiramente, e do meu ponto de vista, existem duas necessidades distintas que determinam o papel do Papa: ser um guia espiritual do mundo, e ser um governante sábio da Igreja. Ou seja, profeta e pastor. E como as podemos manter unidas?

 

A necessidade profética é representada pelas diferentes expressões da sociedade nos planos social, económico, cultural, político e, sobretudo, por todos aqueles que, independentemente da fé ou não, lutam pela justiça, pela paz. O papel dos cristãos é relacionarem-se com o mundo  introduzindo cada vez mais a paz, a justiça e o amor com o seu serviço.

 

A necessidade pastoral que hoje determina o papel do Papa é a tradicional, aquela que coincide com o facto de ser o sucessor de Pedro: o governo da Igreja. Pedro não foi um profeta, mas aquele a quem Jesus deu o poder das chaves para abrir ou fechar o caminho para o céu, e a quem Ele disse: «Apascenta as minhas ovelhas». Nas suas diversas estruturas, da Cúria Romana, passando pelas nunciaturas, as dioceses, até às paróquias, a Igreja exprime a necessidade de ser governada em harmonia. Aqui, o papel dos católicos é ser Igreja, povo de Deus. Nesta perspetiva, trata-se de tornar a Igreja cada vez mais unida para que possa evangelizar cada vez melhor.

 

Para a primeira perspetiva, a tarefa da Igreja consiste em ser o sal da terra e o fermento na massa. Esta perspetiva pensa a Igreja em função do mundo e, por isso, atribui ao Papa a tarefa de ser profeta; a outra pensa o mundo em função da Igreja e, por isso, atribui ao Papa a tarefa de ser pastor. 

 

Parecem duas necessidades muito diferentes e de difícil conciliação...

 

Com efeito, são um pouco diferentes, pois a primeira exige risco, profecia, coragem, uma certa imprudência. Qualidades sem as quais não há profecia. A segunda exige diplomacia, compromisso, diálogo e escuta. Sem as quais não há governo

 

O mundo de hoje precisa urgentemente de líderes espirituais que saibam falar à parte boa do ser humano e não aos seus instintos tribais, sectaristas. Capazes de falar ao coração, à alma, aos sentimentos íntimos do ser humano.

 

Quem é que ainda fala de sentido de dever, de ética? Quem educa os nossos jovens na moralidade, na virtude, naquela dimensão para a qual nós, seres humanos, somos verdadeiramente humanos? 

 

O mundo precisa de um guia espiritual e, por isso, encontrou um no Papa Francisco, e ele, apesar das suas limitações, conseguiu ser esse guia para o mundo. Convido-vos a reler a crónica do passado dia 29 de Abril. Naturalmente, porém, o preço que pagou foi a incapacidade de ser um verdadeiro homem de governo para a Igreja, que deixou bastante destabilizada.

 

Foi um excelente profeta, mas precisamente por isso não foi, num certo sentido, um excelente pastor. Unir as duas dimensões não é nada simples, mas nesta função desenvolver-se-á o pontificado do Papa Leão.

 

Assim o espero.

 

Não invejo o Papa. Esperam-no tempos, posições e escolhas difíceis, que não serão indolores para ele nem para quem ama a Igreja. Precisará de ter equilíbrio na escuta e na análise das situações, mas não se pode dar ao luxo de adiar continuamente o que precisa de ser decidido.

 

O Papa Leão XIV não poderá decidir não decidir por medo daqueles que possam levantar-se e sair batendo com a porta. Precisará de ser corajoso.

 

E todos nós, batizados, somos convidados a rezar, a falar e até a gritar para que o Evangelho seja anunciado e testemunhado de forma séria, honesta, coerente e credível.

 

Assim o auguro.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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