Encontrar a luz na escuridão.
“Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.” (Jo 8,12)
Aprendi que no Evangelho segundo São João, Jesus não oferece apenas palavras de conforto: apresenta-se como uma luz, para iluminar as trevas mais densas da nossa existência.
O que somos na escuridão? O que é a nossa vida na profunda penumbra? A penumbra da alma, a escuridão do espírito, a escuridão do sentido? Cometemos erros, enganamo-nos, fazemos o mal. Quando não vemos, podemos até cometer atrocidades... E sofremos…
Mas o que significa para cada um de nós deixar-se iluminar por esta luz? A esperança cristã não é uma fuga à dor, nem uma simples espera que as coisas mudem. É antes uma confiança silenciosa, mas resistente. Confiança de quem continua a caminhar apesar das dificuldades.
Jesus não promete que as trevas desaparecerão, mas garante que aqueles que O seguem terão a luz da vida. É uma luz que nem sempre ofusca. Por vezes, manifesta-se como uma chama pequenina, delicada e frágil, que resiste ao vento do cansaço, da solidão, do desânimo. Mas é precisamente aí que a fé se pode encarnar e tornar concreta num gesto, na presença.
O cristão não é chamado a explicar o sofrimento. É convidado a estar ao lado de quem o vive. É a experiência do Senhor com os discípulos de Emaús. Jesus caminha com eles mesmo que não o reconheçam. Escuta-os, não os julga, deixa-os desabafar. Só no final, quando o coração se abre, a luz se dá a conhecer.
Na vida quotidiana, cada um de nós pode ser um sinal dessa luz: uma palavra gentil, um ouvido atento e verdadeiro, um gesto simples, podem acender a esperança no coração daqueles que já nada veem. A luz nem sempre vem do céu. Por vezes, vem de mãos humanas que sabem ficar, acompanhar, acolher e abraçar.
Ultimamente tenho escutado amigos e conhecidos que passam por uma grande escuridão. Um sofrimento que, tantas vezes começa no corpo – doença ou morte - mas que já penetra e enterra a alma.
Na escuridão da alma, as palavras podem soar distantes, quase inalcançáveis. No entanto, onde a esperança parece perdida, algo silencioso e inesperado pode acontecer. A tarefa de quem acompanha não é acender a luz, mas sim permanecer perto de quem já não a vê, com paciência e discrição. Com pequenos gestos: escutar com respeito, acompanhar com delicadeza, sem pressas, sem forçar.
Não devemos assumir a dor dos outros de forma autoritária. Bate-se. E se se abrir, anda-se em bicos de pés. Porque a esperança não se impõe: testemunha-se. Não se entrega em pacotes já feitos, mas cultiva-se em conjunto, calmamente, com palavras medidas e com um olhar que sabe dizer: "Estou aqui! Tens o meu colo, o meu abraço".
Existe uma forma de força que quem escuta pode transmitir: é a confiança na possibilidade de voltar a ter luz, mesmo quando tudo parece escuro. Não se trata de um otimismo vazio, mas de uma presença serena que se deixa tocar sem se deixar abater, e que sabe acalentar.
A luz de Cristo não apaga as trevas como um interruptor. Por vezes, é como uma aurora tímida. Mas quando ela chega, tudo muda. E quem acompanha pode ser esse primeiro raio, discreto mas presente, que prepara o coração para reacender.
Acolher as fragilidades dos outros só é possível se aprendermos a habitar também as nossas. Não somos espetadores externos. Porque todos nós temos momentos de escuridão, de penumbra. Neste encontro autêntico nasce uma forma de esperança que é verdadeira: não porque tudo esteja resolvido, mas porque já não estamos sós na escuridão.