Quanto mais lermos, melhor seremos a ler e o que quer isso dizer? Quem tem prática de leitura consegue distinguir melhor o vale a pena ler com atenção daquilo que se pode ler na diagonal. Por essa razão, acaba por ser mais eficiente a ler sem qualquer prejuízo em compreender aquilo que leu. Logo, lê menos. Um paradoxo?
O último livro de Juan Villoro inspira-se na experiência que muitos de nós já tivemos de confirmar em sites da internet que “Não sou um robô” (Zigurate, 2025). E numa segunda parte do livro, Villoro reflecte sobre o impacte dos ambientes digitais na nossa leitura e modo de conhecer. Afirma—«A Internet é eficaz para encontrarmos o que já nos interessa. As bibliotecas e os jornais impressos, pelo contrário, prestam-se mais a encontrarmos o que não procuramos, método essencial do conhecimento.»
A leitura que antes habitava o papel passa cada vez mais a habitar o ecrã. E a experiência que muitos de nós fazemos é a da descontinuidade da leitura. No papel somos naturalmente impelidos a ler até ao fim. No ecrã lemos aos pedaços, deslizando o dedo pelo ecrã sem saber quando irá terminar o texto. Por vezes, acontece que termina de repente. Talvez por ter atingido o número máximo de caracteres exigido pelo editor do jornal digital, o que me leva a pensar em quantas coisas ficaram por dizer.
Se estiver a ler um livro de ficção, será a história que me leva a mergulhar num mundo imaginário que construo dentro da minha cabeça. Mas se estiver a ler um livro de não-ficção, habitualmente, pretendo conhecer um pouco melhor sobre um determinado assunto. Numa pesquisa na internet, os textos oferecidos à leitura alinham-se com as minhas palavras-chave usadas na pesquisa, e a leitura salta de texto em texto, limitando a possibilidade de me cruzar com uma ideia nova. Porém, num livro, como diz Villoro, «O melhor de ler é continuar a fazê-lo. Compreender significa aproximar-se do que ainda não se conhece.»
Não será que isso me leva a ler mais e não menos? Ou seja, só mergulhando mais nas palavras posso cruzar-me com a possibilidade de me confrontar com algo novo. Como pode isso levar-me a ler menos?
Quando escrevemos temos frequentemente a necessidade de explicitar algo que é mais conhecido para criar pontes com algo que queremos dar a conhecer, mas que se conhece pouco. Quem está treinado na leitura, pela regularidade com que lê, mais facilmente começa a identificar este tipo de parágrafos que reconhece serem necessários num livro, mas que fazem já parte daquilo que conhece, facilitando a chegada ao argumento que desconhece.
Quem pouco lê é como quem pouco anda de bicicleta. Sabe que sabe andar, mas precisa de pedalar mais do quem está habituado a pedalar, por precisar de reencontrar o que implica para as pernas nos pedais saber andar.
Ler mais lendo menos poderia ser uma questão de eficiência de leitura, mas é mais do que isso. É desenvolver dentro de si o olhar arguto para distinguir o trigo do joio no texto; distinguir aquilo que tem realmente significado daquilo que está escrito para “encher chouriço”. Como diz Villoro—«O bom leitor ignora o desnecessário.»—e, por isso, lê mais, lendo menos. Agora que se aproxima o tempo das Feiras do Livro, pensa nisso.