Que tipo de Papa precisamos?

Crónicas 6 maio 2025  •  Tempo de Leitura: 4

Enquanto todo o cristianismo olha para Roma, e não só, esta é uma questão que interessa a todos, não só aos crentes, mas também aos não crentes, não só aos europeus, mas também ao resto do mundo, recordemos que o Conclave, do latim cum clave, «fechado à chave», indica tanto a reunião dos cardeais eleitores do Papa, que tradicionalmente se realiza, diremos nós, fechados a sete chaves, ou seja, no mais absoluto segredo, como o próprio local onde ela se realiza.

 

Extra omnes, «todos fora», é a frase que indica o início do Conclave, o procedimento que leva os cardeais eleitores, isolados do resto do mundo dentro da Capela Sistina, a escolher o novo Papa. Após a retirada do Cardeal Becciu e a ausência anunciada do Cardeal Antonio Canizares Llovera por motivos de saúde, num total de 252, são 133 cardeais eleitores, representando 71 países, 108 escolhidos por Francisco.

 

Que tipo de Papa precisamos? Há uma necessidade urgente de um ponto de referência espiritual. O carinho, que o mundo presenteou a Francisco demonstra a necessidade de alguém que fale com palavras e gestos que tenham um sabor diferente da política, do direito e da economia.

 

«Esperamos um pontífice profundamente humano, que se desprenda da “aristocracia” e da teologia, que faça brilhar as bem-aventuranças», escreveu o Padre Alberto Maggi.

 

O Papa de que nós precisamos é aquele que nos faça olhar para além da vida deste mundo. Precisamos de voltar a acreditar que nós, humanos, não somos apenas terrestres. A dimensão humana da economia, da política, do direito é importante para nós, mas não é tudo. Para além das razões económicas, existem sentimentos dentro de nós que não podem ser comprados; para além da relação comigo próprio, existe a relação com o outro que nos humaniza e diviniza, que nos une e nos leva a cuidar uns dos outros; para além da fria realidade, há necessidade de futuro, de esperança. Se assim não fosse, a nossa história seria completamente diferente: sem arte, nem música; sem filosofia, nem poesia; sem espiritualidade.

 

E penso que é disso que os homens precisam, especialmente hoje, quando a política em todo o mundo, não só em Portugal, ignora a ética e a lógica do bem comum, sendo apenas uma imposição do mais forte, do politicamente mais esperto. Se o próximo Papa ignorar esta dimensão profética e apenas se preocupar com o governo da Igreja, o mundo perderá este importante ponto de referência, para não dizer essencial, dada a escassez de referências de valor a nível internacional.

 

Recordo a vocação de Simão Pedro: Jesus chama Simão de entre o povo, não o separa do povo. A caminhada de Pedro é estar com o povo para ouvir o Senhor. Quando Jesus o unge bispo, sacerdote, unge-o porque é pastor. Não o unge para o promover, para o fazer chefe de um serviço. Não o unge para organizar o país politicamente. Não. Unge-o para ser pastor e Pedro deixou tudo...

 

É apenas esta dimensão vertical que pode realmente curar o nosso mundo. O Papa de que precisamos é, antes de mais, aquele que a sabe testemunhar. Aquele que faz brilhar as Bem-Aventuranças.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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