Não estamos longe!
Para onde vão os que nos morrem? Os que partem e os que deixamos de encontrar neste plano e nesta dimensão? Se não os vemos será que ainda existem? Voltaremos a encontrar-nos?
Todas estas (e tantas outras) perguntas se podem acender em nós perante uma perda e um luto. E o impacto de alguém que se “perde” para a morte pode durar uma vida inteira.
No entanto, vale a pena olhar para estas perdas e estes lutos de uma outra perspetiva. Não retirando a importância de sentir a dor que podem causar e as consequências que esta pode ter no momento presente ou futuro, também será possível encontrar aqui uma face da moeda com um pouco mais de luz.
Quem parte não se perde. Coloca-se à nossa disposição a partir da dimensão celestial e eterna em que agora paira. Encontra formas de se fazer presente, permanentemente. Encontra maneiras de nos embeber de uma proximidade real (e nunca imaginada ou sugerida) que acaba por ser muito mais intensa e profunda, precisamente por operar ao nível da alma. E é nesse silêncio que diz tudo que tanta saudade pode ser encurtada e transformada em graça e em dom.
Quem parte não nos abandona. Não atravessa para uma outra margem, mas, antes, permanece perto numa outra dimensão do caminho. Envia-nos sinais em forma de pássaros, cores, gestos, pessoas, peças de roupa ou canções. Faz-se presente através de um abraço alheio ou improvável e aparece-nos nos sonhos ou nas orações.
Pensar que a morte nos retira dos nossos é um pensamento demasiado curto e pequenino. A morte é só a cara que damos à dor. Mas depois dessa mesma dor, há um universo de beleza transcendente à nossa espera. E a certeza de estarmos juntos, mesmo quando estamos longe.
A morte não nos afasta, ao contrário do que toda a vida pensámos. A morte aproxima-nos profundamente e traz-nos mensagens de além-vida que podem mudar o curso do rio da nossa alma. E é por essa vida que se planta depois da morte por que vale a pena viver.