A escuridão não pode ser derrotada com mais escuridão

Crónicas 24 dezembro 2024  •  Tempo de Leitura: 3

O tempo que atravessamos é um tempo complicado. Pode parecer uma frase feita, mas de facto, se formos conscientes ao fluir da sociedade, vemos que ela vive, em grande parte, da aparência, imediatismo, excessos de toda a espécie, onde a coerência de comportamentos, de ideias, de escolhas, dura o espaço de 24 horas...

 

Neste clima de excessos, que não se limitam ao consumismo, mas também se estendem às áreas da religião, da política, do desporto, da economia e até da família, as personagens mais famosas, e em alguns casos mais votadas, são aquelas que procuram estar sempre no centro das atenções, sempre na crista da onda...

 

Para muitos é um tempo de confusão e de desencorajamento, porque falta coerência, confidencialidade, humildade, dignidade...

 

A semana passada dizia-me um amigo de vetusta idade: «O nevoeiro e a escuridão invadem o nosso quotidiano, deixando-nos quase cegos sobre para onde iremos se continuarmos assim: guerras no norte e no sul, mas o leste e o oeste também não estão bem, com violência, extremismo e ódio. Os homens parecem ter escolhido as trevas em vez da luz».

 

Parece que há um apagão. Um apagão das mentes, dos comportamentos e das escolhas inteligentes e pacíficas. Um apagão na escuta da gente sábia e moderada.

 

Porém, como lhe disse, nós cristãos, acreditamos verdadeiramente que as trevas nunca serão derrotadas com mais trevas. Jamais serão transformadas em luz, com conflitos, violência, excessos e extremismos de direita ou de esquerda. Tal como a felicidade não é gerada com o consumismo do Natal.

 

Enquanto tentarmos vencer esta escuridão com mais escuridão, permaneceremos numa dinâmica que nunca terá fim e que criará novas injustiças. Foi o que São João nos tentou dizer há quase 2000 anos: “A luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a Luz”.

 

O mistério do Natal chega-nos precisamente nestas condições. Entre as mil preocupações, deceções e medos, temos uma certeza: Deus vem habitar no meio de nós. Deus quer viver connosco. Mesmo que vivamos suspensos num medo que anestesia a nossa alegria, é Ele que mais uma vez nos vem visitar. É à luz desta certeza que aqueles pequenos sinais que hoje decoram as nossas casas e as nossas ruas adquirem valor e beleza. Testemunhos de uma presença que tem sabor a novidade, de um amor que se renova e rompe o medo, de uma luz que aquece as trevas.

 

É o convite a nunca desanimar, mesmo que a realidade em que vivemos seja, por vezes, dolorosa e difícil. Com efeito, ao fazer-se homem, o Senhor tomou sobre Si, tudo o que há de humano, de fraco, até de escandaloso e de contraditório, para o elevar ao Céu.

 

Que esta seja a fonte da nossa esperança! 

Um Santo Natal!

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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