Ter a coragem de ser feliz

Crónicas 29 maio 2023  •  Tempo de Leitura: 4

Tenham a coragem de serem felizes, foi a chave que abriu o diálogo num encontro de jovens sobre o futuro. Mas de que tipo de felicidade estaríamos a falar? A nossa sociedade propõe modelos de vida baseados na exterioridade, no consumo, no sucesso e no poder. Oferece-nos imagens de mulheres e homens perfeitos, criados segundo a lógica do mundo.

 

De facto, estamos numa época em que se fala muito em liberdade e direitos, mas muito pouco de deveres e responsabilidades pessoais. Sejam para connosco próprios, sejam para com a sociedade, esquecendo-nos que não vivemos isolados. Somos sempre pessoas em relação. Um desses direitos muito proclamados, mas talvez nunca alcançados, é justamente o da felicidade.

 

E este, muitas vezes é a todo o custo! Não nos surpreendamos se vemos que o nível de competitividade no trabalho e no dia a dia é muito alto! A corrida atrás do sucesso e do poder, grande ou pequeno, paga-se caro: é necessário ter o que há de mais moderno como telemóvel, a roupa de marca ou o carro mais popular para pertencer a uma determinada classe social. Temos que conhecer tudo o que é top em restaurantes e viajar aos destinos de sonho...

 

O nosso eu deve sempre afirmar-se e o nós colocado em segundo plano, ou mesmo marginalizado. Infelizmente a realidade é muito mais complexa e confusa, e a crise que vemos na sociedade como na própria família, vem-nos provar isso mesmo: a violência e a agressividade, bem como mal-estar juvenil, deve-nos interpelar. 

 

A felicidade não se alcança concentrando-se apenas em si mesmo e vivendo apenas no presente. Ela consegue-se num caminho, muitas vezes cansativo e até doloroso, talvez até impopular e contracorrente, que realiza o desejo profundo pelo qual o coração anseia.

 

A verdadeira alegria não surge de uma embriaguez momentânea, da acumulação de bens, de coisas, mas de ter o coração enraizado num grande ideal a ser perseguido ou em Alguém. Alguém que nos ama livremente, sem nenhum mérito, que satisfaz o nosso desejo de paz e de nos sentirmos aceites, compreendidos e amados por quem somos e não por quem deveríamos ser.

 

«Jesus não é o Senhor do conforto, é o Senhor do risco. Mas abre todas as portas da nossa vida, abre os nossos horizontes, impulsiona-nos a viver intensamente, ao máximo. Se pensarmos que a felicidade é conforto, dá-se uma grande paralisia. Ao contrário, devemos caminhar por caminhos nunca pensados ​​e marcados pelo amor de Deus. É um desafio, devemos colocar nele o melhor de nós mesmos.

(...)

Este tempo pede-nos para vivermos como protagonistas, a vida é bela se a vivermos até o fim, não deixarmos que outros decidam por nós. Quando o Senhor nos chama não pensa em quem somos mas em tudo o que gostaríamos de fazer, aposta sempre no futuro, no amanhã, em todo o amor que somos capazes de contagiar. Vocês são uma oportunidade para o mundo, tenham coragem de trilhar os caminhos da fraternidade».

 

Papa Francisco nas JMJ de Cracóvia em 2016

 

A Felicidade não é viver num mundo fictício sem problemas, mas viver a vida como ela se apresenta sem medo, porque somos ajudados por Deus. Significa celebrar os sucessos, mas também aprender com os fracassos. Viver relacionamentos ricos, mas também deceções. Sentir-se amado e apreciado, mas também marginalizado. Recomeçar cada vez que errar e saber pedir desculpas, saber perdoar, saber agradecer...

 

Ser protagonista da própria vida é amar a vida e agradecer, no início de cada dia, este dom que recebemos de Deus.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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