Para que serve a escola?

Crónicas 23 maio 2023  •  Tempo de Leitura: 5

A pouco mais de um mês para terminar as aulas da escolaridade obrigatória, iniciei a minha autoavaliação como professor em mais um ano. Uma avaliação contínua, pois vai sendo partilhada no decorrer dos dias com colegas de norte a sul do país.

 

A primeira pergunta que fazemos é a seguinte: Para que serve a escola?

 

Amadurecer, crescer a nível físico, intelectual, psíquico, moral e espiritual... A educação é também, a chave para superar os grandes desafios que enfrentamos: foi a pandemia, são as alterações climáticas, as desigualdades e pobreza social e económica...

 

Infelizmente e cada vez mais, é vivida, pelos alunos, com pouco interesse. E muitos tem dificuldade em perceber a escola como um espaço importante para o seu crescimento. Uns até a abandonam.

 

A escola está em crise porque vivemos numa sociedade em que o útil é mais importante que o ser. A falta de vontade em estudar, em parte, depende também da imaturidade social e familiar que muitas vezes atribui à escola um valor muito relativo

 

A nossa cultura está em crise porque  vive-se na superficialidade. Parece que a estupidez é uma ostentação e a ignorância uma condição invejável. Uma grande maioria dos alunos, está na escola porque todos estão! Não conhecem outra realidade (a dureza do trabalho; a negação do acesso ao ensino; a dificuldade em ter uma escola ou condições básicas para tal;...) Sabemos, porém, que estudar contribui para o aumento da autoestima, favorece novas motivações, faz ser e não apenas existir. 

 

Mais do que nunca, a família e a escola devem intervir em conjunto, ainda que com papéis e funções diferentes. Elas são espaços seguros para o desenvolvimento juvenil, ainda que, por vezes, não coincidam e reflitam competências e estilos educativos diferentes.

 

Mas hoje, perante os problemas que os jovens apresentam, é mais urgente do que nunca encontrar estratégias que favoreçam a integração da família e da cultura escolar, numa perspetiva de colaboração e cooperação constantes. As famílias e os professores cristãos mais ainda! Não podem deixar de assumir as suas responsabilidades.

 

Se os professores são sobretudo quem deve estimular o desejo de saber, são os pais que devem, em primeiro lugar, demonstrar a sua importância para a vida.

 

A autoridade de hoje é muito diferente daquela herdada das gerações do pós-guerra. Os pais são menos autoritários e mais libertários. A atual geração viu as suas liberdades individuais expandirem-se. No entanto, esta liberdade individual não foi acompanhada pela evolução do papel educativo do progenitor e do adulto. Agravou-se o risco educativo, porque se assiste a um recuo educativo dos líderes naturais... Os pais precisamente.

 

Antigamente, mesmo quando o diálogo pedagógico estava ausente, era possível alavancar a efetividade dos papéis: o professor impunha-se ao aluno em virtude da sua posição hierárquica, e a mesma fórmula repetia-se nas famílias onde os filhos eram subordinados aos pais. Hoje esta abordagem desapareceu completamente. Os papéis foram destruídos antes de tudo dentro das famílias e, consequentemente, também nos espaços institucionais, como a escola.

 

Gerir a maior liberdade dos alunos requer um exercício de autoridade mais difícil e complexo. E assim cresceu uma geração de crianças mais livres, mais precoces, mais equipadas com os meios de comunicação, mais expostas e mais frágeis. Nas escolas, os pais tendem a apresentar-se, cada vez mais, como sindicalistas que defendem os seus filhos.

 

É preciso educar para valores dada a crise que vivemos hoje. Há que distinguir dois níveis de intervenção, ambos essenciais e intimamente ligados: o primeiro é o das ideias (desses valores) e a reflexão sobre essas para levar a escolhas pessoais e significativas. O segundo é o do comportamento concreto, que deveria ser, mas nem sempre acontece, consistente com as ideias.

 

A vida do professor é estimular os alunos a uma reflexão pessoal e coletiva, relacionando-se com tudo o que tem valor: o corpo com suas funções, a mente na variedade de suas capacidades criativas, intuição, memória, conhecimento, imaginação, linguagem, comunicação. No fundo, um ensino que visa o amadurecimento do aluno. 

 

É urgente...

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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