O Horizonte de Esperança e a Fragilidade Humana

Crónicas 28 março 2023  •  Tempo de Leitura: 3

Perante as notícias das últimas semanas que batem constantemente na pedofilia na Igreja, apetece exclamar como o salmista:

 

«Já não vemos nossos sinais, não existem mais profetas,

e dentre nós ninguém sabe até quando.»

Salmo 74, 9

 

As notícias que os média nos oferecem,  na maioria das vezes, destacam situações negativas: guerra, violência e outras realidades más. Os homens da Igreja, não ficam de fora. Ouso dizer que as omissões e os pecados dos sacerdotes ainda são mais apetecíveis. Estes são homens a quem foi dado um grande dom, que foi enxertado na fragilidade da sua carne, o que nos pede um olhar de misericórdia. A própria Igreja, com o Papa Francisco à frente, está a tentar remediar, oferecendo ferramentas, formas de acompanhar e propor caminhos àqueles que são vítimas desta fragilidade.

 

O flagelo da pedofilia que atingiu a Igreja é certamente uma ferida dolorosa para todos os crentes. Infelizmente, o recente relatório da Comissão Independente também é mais uma prova dessa dor. Quando o Papa Bento XVI, naquela famosa via sacra de 2005,  afirmou: "Quanta porcaria há na Igreja, e precisamente também entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer totalmente a Ele!", certamente ninguém teria imaginado a extensão dessa praga. 

 

As perguntas que nos fazemos são muitas e são legítimas: por que se demorou tanto tempo para denunciar o fenómeno? Por que se manteve no silêncio? Por que é que não foi possível conter este flagelo tão dramático?...

 

Esta realidade, a qual não podemos calar, não pode obscurecer a maioria dos sacerdotes que, com paciência e grande paixão, exercem o seu ministério em conformidade com Cristo Bom Pastor, nas realidades em que são chamados a servir o povo de Deus confiado a eles. Também não podemos negar que o clima social em que operam mudou completamente. Vivemos numa mudança de época, numa situação de confusão generalizada, em que, muitas vezes, a mentira passa por verdade e a verdade por mentira.

 

A tragédia da pedofilia pode ter afastado muita gente da Igreja, e compreendemos a deceção e o escândalo que isso suscitou, mas não podemos, nem generalizar e dizer que todos os sacerdotes e religiosos são pedófilos, nem que deixamos de acreditar no poder mediador da Igreja junto de Deus.

 

Devemos viver a crise como uma nova forma de profecia! Anunciar a Palavra na sua radicalidade, de forma direta e sem receios.  Anunciar aquela Palavra incómoda que pode também perturbar e minar a mundanidade que tece a vida de muitos cristãos. E fazer as mudanças na Igreja que essa mesma Palavra nos pede.

 

O verdadeiro profeta é o homem que sabe chorar pelas pessoas que abandonam a verdade. No entanto, também é um homem de esperança, porque é uma pessoa de oração.

 

Sabe olhar para Deus e para o seu povo, abre portas, cura as suas feridas  e, pertencendo a esse mesmo povo, sabe dar a sua vida num horizonte de esperança.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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