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Crónicas 6 dezembro 2022  •  Tempo de Leitura: 4

Depois de um mais um adiamento da lei da eutanásia; da morte de três progenitores de colegas de trabalho e concentrado no evangelho deste domingo, procurei a passagem de um texto que li em tempos e transcrevi alguns parágrafos.

 

«A morte é um fenómeno "natural", pelo menos nesta fase da curta história humana. Daqui a mil anos, ou a um milhão de anos - contanto que a espécie humana não se suicide nesse entretanto - provavelmente não será tão "natural" como isso; não será mais assim quando, na transição para a noosfera integral (mundo das ideias e do pensamento humano), a inteligência humana assuma o controle total e criador da vida. O Novo Génesis está a aproximar-se. Os dilemas morais que surgirão num futuro distante começam a bater-nos à porta, mas para já não nos preocupam. Hoje continuamos a morrer. O modo como a inteligência autoconsciente acompanha esse facto vital - a morte é o último gesto da vida - depende de fatores externos a nós: há quem morra jovem, quem é velho, quem é saudável, quem é doente, quem de repente, quem é consciente e quem é inconsciente. Existem tantas maneiras de morrer quanto maneiras de viver.»

Giovanni Cominelli

 

De facto, a cultura dominante, pelo relativismo e pelo subjetivismo exagerado, é o espaço e o tempo do testemunho em que o crente também é chamado a resistir, a dizer sim ou não, que anuncie a verdade incómoda, sem inequívocos, sobre o valor da dignidade humana, da vida, da família e da paz.

 

O pensamento atual propõe um nivelamento de todas as questões relativas à vida, ao amor e à educação, em nome da liberdade de expressão ou da aceitação da diversidade. É necessário reconhecer que a vida é sagrada e inviolável. Ao mesmo tempo, desmascarar aquelas falsas compaixões que justificam qualquer escolha e legitimam matizes variadas de individualismo. A pessoa continua a ser o centro do cuidado e da proximidade, e é na relação comunitária que se faz a estrada.

 

Deve-se notar que os laços que tornam a vida bela também podem ajudar a viver bem a morte. Ninguém vive bem sozinho e morrer sozinho, pior ainda! Pedir ao Estado que ajude a morrer, é muito pouco. É muito mais importante pedir ao Estado e às pessoas com quem se partilhou tudo, que partilhem também esses momentos dolorosos. E isso vale tanto para quem decide dar o passo, quanto para quem decide, apesar de tudo, vivenciar a doença, mesmo a mais extrema. Com efeito, o que muitas vezes falta não é tanto a liberdade de morrer, mas a liberdade de viver, quando viver é difícil.

 

Esta verdade deve ser anunciada com coragem. Muitas vezes, em nome do pluralismo, já não se tem a coragem de fazer o anúncio eficaz e envolvente do Evangelho: deve-se acolher e respeitar a diversidade e a riqueza, mas não se pode calar as convicções da maioria dos crentes nem ignorar a riqueza das diversas tradições religiosas e dos valores a elas associados. O cristianismo, no mundo ocidental, perdeu o valor profético do testemunho.

 

O cristão é portador de uma riqueza humana e espiritual que deve tornar fecunda a história com a sua presença ativa e responsável.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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