Uma geração desiludida (!?)

Crónicas 11 outubro 2022  •  Tempo de Leitura: 5

Quem são, como vivem, o que pensam e o que sentem os jovens portugueses? Foi este o objetivo de um estudo promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos realizado em junho de 2020. Os resultados foram apresentados em Novembro do ano passado e ainda hoje me fazem pensar.

 

Responderam 4904 pessoas entre os 15 e os 34 anos, que representam os 2,2 milhões de jovens que constituem a população do nosso país. O estudo abordou várias temáticas essenciais a cada um de nós, mas particularmente importantes para esta faixa etária, como: o trabalho e salários; a educação e formação; saúde mental; política e valores; igualdade de género; sexualidade e família e, finalmente, hábitos e ocupação do tempos.

 

Interessa-me de forma peculiar a questão da saúde mental. Ontem, 10 de Outubro, comemoramos o Dia Mundial da Saúde Mental.

 

«O estudo faz um retrato preocupante do bem-estar psicológico dos jovens. Quase um quarto (23%) já esteve medicado com ansiolíticos ou antidepressivos (mais as mulheres do que os homens) e 12% tomam regularmente medicamentos para dormir.

Dizem sentir bastante ou muita pressão social para «ter sucesso no trabalho ou nos estudos» (69%) e, em segundo lugar, para «não desiludir a família». E 42% confessam já ter sofrido alguma situação de assédio ou violência, seja na escola, trabalho ou relações de intimidade. Mas há uma enorme diferença entre os sexos: 53 % das vítimas foram mulheres e 32% homens.

No geral, cerca de 40% dos jovens consideram que a vida que levam está abaixo ou muito abaixo das expectativas que tinham e um terço dizem-se pouco felizes. Quase um quarto (23%) já tentaram acabar com a vida ou pensaram nisso (quase duas vezes mais as mulheres do que os homens) e 12% já “infligiram lesões no seu corpo de forma intencional”.

 

Vivemos um momento difícil marcado por muitas incógnitas. Neste tempo de pandemia, a nossa capacidade de relacionamento social tem sido posta à prova: a tendência de se retrair, o fazer sozinho, o desistir de sair, de se encontrar, de fazer coisas juntos. Também no plano internacional existe o risco de que a difícil crise leve à escolha de atalhos ao invés de caminhos de diálogo, a uma solução para os conflitos e para a paz duradoura. Se lemos as notícias nos jornais ou vemos a televisão, somos assaltados pelo pessimismo e pelo medo, porque o cenário que se apresenta aos nossos olhos não é dos mais tranquilizadores.

 

O pessimismo rouba a esperança e os sonhos.

 

Certamente não podemos fechar os olhos ou afastar-nos da realidade, mas talvez possamos ampliar o nosso olhar para poder apreender, dentro da complexidade e da negatividade, que até o bem e a própria vida flui numa outra direção e dá esperança ao nosso hoje. Como diz o velho ditado popular: “uma árvore quando cai faz mais barulho do que uma floresta a crescer”. Vemos apenas a árvore caída e não percebemos a floresta que está a crescer e continua a gerar oxigénio para toda a terra!

 

Esta Terra também vive graças ao bem silencioso que é semeado no mundo por tantas mulheres e homens de boa vontade que sujam as mãos e se entregam em muitos campos, para tornar a vida mais humana e habitável. O bem não faz barulho, é como uma brisa leve, uma carícia no rosto das crianças, jovens e adultos que experimentam o sofrimento, o desconforto, a doença, e que envolve a sua existência com calor.

 

Nestes dias tenho-me maravilhado com a quantidade de alunos do ensino secundário da minha escola, que se oferecem para apoiar alunos e fazer companhia a idosos no Bairro do Condado, antiga Zona J de Chelas. São uma floresta a crescer!

 

Tenhamos a coragem de propor caminhos, itinerários alternativos à sociedade de consumo que tanta pressão coloca ao futuro dos nossos jovens.

 

Precisamos abrir os olhos para ver uma nova humanidade e acreditar que ela está presente e atuante no hoje em que vivemos.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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