Ser Mulher, continua difícil…

Crónicas 17 maio 2022  •  Tempo de Leitura: 5

Leio as notícias dos últimos dias: a polémica do aborto nos Estados Unidos; a dificuldade que as refugiadas ucranianas têm para abortar na Polónia onde este ato é quase impossível; o assédio sexual que grassa em muitos países europeus; a desigualdade de género que teima a imperar sobre quase todo o mundo ocidental; a violência doméstica no nosso jardim à beira mar plantado

 

As batalhas mais amargas, aquelas que suscitam mais sofrimento e ressentimento, são travadas ainda hoje no corpo das mulheres, onde, como todos sabemos, se fundam as nossas próprias raízes e o mistério da vida.

 

É doloroso constatar que a capacidade de ouvir, de estar perto, de cuidar, continua a fracassar redondamente. O que deveria estar entre as principais preocupações neste tempo dilacerado pela pandemia, pela guerra, pelo individualismo e materialismo, continua a faltar. A capacidade de se debruçar sobre as feridas das pessoas, deveria ser a marca de uma sociedade judaico-cristã. Esta capacidade nasce num cristianismo operante e atuante. Pelo menos deveria

 

Aborto e desigualdade de género são obviamente questões muito diferentes, mas na base está sempre o corpo feminino e a maternidade. O problema está na abordagem feita pela comunicação social e pela generalidade da opinião pública. Falta em quase todos: dignidade e respeito. E já nem entro nas redes sociais. Aqui é o descalabro! Já diz o nosso velho ditado popular: "Em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão".

 

Falta-nos tantas vezes a empatia. Seja para colocar-nos na pele da mulher que recorre ao aborto, seja naquela que também quer realizar-se profissional e maternalmente. A solidão vivida por muitas mulheres é inimaginável para quem está de fora. Quase sempre encontramos a pobreza, o machismo, a marginalização e a falta de formação como o solo fértil para o surgimento destas situações.

 

É sobretudo a partir daqui, na educação, que devemos começar a trabalhar em prol da emancipação e liberdade das mulheres. Até que ponto a sociedade contemporânea é capaz de proteger a vida das pessoas em sentido pleno, ou de oferecer espaço e liberdade para que isso possa acontecer? Até que ponto é que cada um de nós se preocupa realmente com isto?

 

Também me parece importante que cada mulher, cada mulher crente, possa crescer na consciência de sua própria vocação específica no mundo, sem tomar nada como garantido. Somente numa resposta fiel a si mesma poderá realizar-se. No entanto, é necessário um verdadeiro caminho de liberdade pessoal a partir dos múltiplos condicionamentos que, infelizmente, ainda prejudicam e ferem as mulheres, consideradas apenas objeto e exploradas na sua dignidade, sejam estes doutrinas ou ideologias.

 

Termino citando o Santo Papa João Paulo II na carta que endereçou a todas as mulheres em junho de 1995:

 

«Obrigado a ti, mulher-mãe, que te fazes ventre do ser humano na alegria e no sofrimento de uma experiência única, que te torna o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz, que te faz guia dos seus primeiros passos, amparo do seu crescimento, ponto de referência por todo o caminho da vida.

 

Obrigado a ti, mulher-esposa, que unes irrevogavelmente o teu destino ao de um homem, numa relação de recíproco dom, ao serviço da comunhão e da vida.

 

Obrigado a ti, mulher-filha e mulher-irmã, que levas ao núcleo familiar, e depois à inteira vida social, as riquezas da tua sensibilidade, da tua intuição, da tua generosidade e da tua constância.

 

Obrigado a ti, mulher-trabalhadora, empenhada em todos os âmbitos da vida social, económica, cultural, artística, política, pela contribuição indispensável que dás à elaboração de uma cultura capaz de conjugar razão e sentimento, a uma concepção da vida sempre aberta ao sentido do «mistério», à edificação de estruturas económicas e políticas mais ricas de humanidade.

 

Obrigado a ti, mulher-consagrada, que, a exemplo da maior de todas as mulheres, a Mãe de Cristo, Verbo Encarnado, te abres com docilidade e fidelidade ao amor de Deus, ajudando a Igreja e a humanidade inteira a viver para com Deus uma resposta «esponsal», que exprime maravilhosamente a comunhão que Ele quer estabelecer com a sua criatura.

 

Obrigado a ti, mulher, pelo simples facto de seres mulher! Com a percepção que é própria da tua feminilidade, enriqueces a compreensão do mundo e contribuis para a verdade plena das relações humanas.»

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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