Caridade e Cáritas são palavras diferentes

Crónicas 15 março 2022  •  Tempo de Leitura: 3

A minha reflexão em plena Semana Nacional da Cáritas. 

 

A Caridade é testemunhar o amor de Deus por cada pessoa, como fez o Bom Samaritano. Esta parábola contada por Jesus teve um impacto bastante forte para os que o ouviam, mas também tem para nós hoje. Os samaritanos eram considerados hereges pelos judeus e dos quais se deviam manter bem afastados.

 

Ela representa o caminho que cada cristão deve enfrentar para a libertação do egoísmo, do individualismo, da autossuficiência, para colocar no centro o cuidado do outro. Podemos ter a catequese toda, todos os sacramentos em dia, cumprir com todos os rituais e rezas, mas tudo isso não nos faz verdadeiros cristãos.

 

A caridade brota da Eucaristia, que torna presente o sacrifício de Cristo pela humanidade "aqui e agora". A Missa dominical deve fazer o pão de Cristo ir ao encontro do ser humano. O cardeal Carlo Maria Martini disse que "o cristão é aquele que ama o próximo porque vai à missa dominical". 

 

A Cáritas, por sua vez, não é um grupo que distribui pacotes solidários, mas ajuda a pessoa a resolver os seus problemas, caso contrário, tudo se reduz apenas a uma tarefa assistencial, de serviço. A caridade das mãos deve ser precedida pela caridade do cérebro, que é conhecer as necessidades do ser humano e a possibilidade de as prevenir. Trata-se de promoção humana. Infelizmente, muitas das vezes, as Cáritas diocesanas limitam-se ao puro assistencialismo, que não responsabiliza o pobre e nem sequer o empurra para fora da sua situação de pobreza. 

 

O objetivo da Cáritas é apoiar a formação de uma cultura de solidariedade e seus destinatários não são os pobres, mas a comunidade cristã que ajuda os pobres.

 

A Cáritas diocesana e paroquial é chamada a tornar-se pão partido para os outros. Não podemos esquecer que a fé sem obras reduz-se a um sentimentalismo. Se o serviço caritativo fracassasse, o anúncio do Evangelho ficaria seriamente comprometido, a fé correria o risco de se tornar uma ideologia ou uma intimidade piedosa com um "deus" feito, mais ou menos, à nossa imagem e semelhança.

 

E aproximam-se tempos, se é que já não chegaram, em que temos que ir muito mais além do envio de caravanas solidárias para a Ucrânia e países vizinhos, e teremos que abrir as portas das nossas casas para acolher e integrar estes refugiados nas nossas comunidades…

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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