Como não partilhar o que vemos e ouvimos?

Crónicas 12 outubro 2021  •  Tempo de Leitura: 4

No momento em que vos escrevo estas linhas de reflexão, encontro-me numa tremenda divisão interna. Estamos na segunda semana deste grande mês missionário, Outubro com o tema: "Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos". Ao mesmo tempo, este fim de semana, teve início o Sínodo de 2023: "Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão".

 

Qual abordar?

 

Sem dúvida que ambos se encontram profundamente interligados! Francisco convida cada cristão, individualmente e em comunidade, a interrogar-se sobre este tema fundamental para a missão pessoal e comunitária, enquanto comunidade eclesial, no mundo atual: Qual itinerário? Que caminho é que queremos percorrer, como Igreja, neste terceiro milénio? No fundo: Como vamos, como podemos calar o que vimos e ouvimos? Ou seja, como iremos partilhar esta mensagem redentora?

 

No nosso encontro com Cristo, se é que de facto existiu, como é que podemos não divulgar esta mensagem salvadora?

 

Tal como o mês missionário, este Sínodo dos Bispos, deve ser um momento de reflexão intensa sobre o que fizemos até agora: a minha vida é testemunho deste Deus que me liberta e dá sentido à minha vida? Este Deus que é vida, alimenta a minha peregrinação nesta terra? Toda a tralha que acumulo nesta passagem impede-me de O seguir, tal como o jovem rico deste domingo? 

 

Sinto-me membro efetivo deste povo que caminha? Caminhando lado a lado com os outros cristãos e refletindo em conjunto sobre o caminho percorrido, como Igreja, tenho aprendido quais são os processos que me podem ajudar a viver a comunhão, a realizar a participação e a abrir-me à missão? Com efeito, o nosso “caminhar juntos” é o que mais manifesta a natureza da Igreja como Povo de Deus peregrino e missionário.

 

E há! Existem exemplos concretos deste ser comunhão. Existem pessoas que motivadas por este Cristo Imolado, são tempo, disponibilidade para o outro, e mormente, para o outro que mais precisa.

 

Também, nestes dias, tenho assistido e vivido, vidas que por causa de Cristo, são vidas que se dão. Jovens que, num Ensino Secundário exigente, encontram tempo para apoiar outros e ajudar no estudo outros jovens com menos oportunidades, nos bairros de Chelas ou da Ameixoeira; Homens e mulheres que apesar da idade ou dos compromissos familiares encontram tempo para se dedicarem a crianças e adolescentes com necessidades do corpo e do espírito; Gestores de bancos e empresas de consultadoria que têm tempo para visitar idosos nos lares, muitas vezes sem família; Reformados que gozam o seu descanso sendo solícitos àqueles mais desamparados da sociedade…

 

E em todos encontro a vida de Jesus Cristo. Encarnam o amor e o serviço à Palavra que ouvem e vêm. Querem caminhar juntos!

 

Tu que me lês. Muitas vezes a missão está na porta ao lado da tua casa. O ser Igreja está na mão que dás ao teu vizinho: comungas da sua verdade; participas na sua realidade e vives a missão de Jesus na nossa comunidade.

 

Transcrevo o início da homilia do Papa Francisco na abertura do sínodo: «Hoje, abrindo este caminho sinodal, começamos por nos perguntar a todos - Papa, bispos, sacerdotes, religiosos, irmãos leigos, todos os batizados -: nós, comunidade cristã, encarnamos o estilo de Deus, que caminha na história e compartilha os eventos da humanidade? Estamos prontos para a aventura da viagem ou, com medo do desconhecido, preferimos refugiar-nos nas desculpas do 'não uso' e do “sempre foi feito assim”?».

 

Boa Missão! Bom Sínodo!

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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