O que fazer nas férias?

Crónicas 27 julho 2021  •  Tempo de Leitura: 4

Para esta crónica voltei a ler um pouco da Laudato Si do Papa Francisco. Um texto que é uma contínua fonte de saber e de saber ser.

 

No nº 237, o Bispo de Roma refere-se à participação na Eucaristia dominical em tempo de férias, no entanto, podemos estender e entender este trecho a todo o período de descanso.

 

«O ser humano tende a reduzir o descanso contemplativo ao âmbito do estéril e do inútil, esquecendo que deste modo se tira à obra realizada o mais importante: o seu significado. Na nossa atividade, somos chamados a incluir uma dimensão recetiva e gratuita, o que é diferente da simples inatividade. Trata-se doutra maneira de agir, que pertence à nossa essência. Assim, a ação humana é preservada não só do ativismo vazio, mas também da ganância desenfreada e da consciência que se isola buscando apenas o benefício pessoal.»

 

Os portugueses, de uma forma geral, usam o termo “férias” para definir este tempo de descanso que é consequência da paragem das atividades ligadas, sobretudo, ao trabalho ou estudo. “Férias” quer dizer, dias de descanso, dias de feriado. Porém, o termo mais usado pelos nossos irmãos latinos é “vacação”: Vacaciones (Espanha); Vacances (França); Vacanze (Itália). 

 

A "vacação", particípio presente do verbo latino "vacare", isto é, "estar vazio, livre", é precisamente o tempo de abrandar para criar aquele espaço útil à escuta e ao acolhimento de tudo aquilo que pode verdadeiramente dar-nos plenitude. É restabelecer a fronteira com as nossas correrias frenéticas, com o ativismo em busca de objetivos que têm de ser alcançados. É curioso como o Evangelho nunca fala de resultados, mas apenas de frutos!

 

Verdade é que, quase todos nós, perdemo-nos no verbo fazer. E estamos dispostos a sacrificar por ele o verbo ser. Fazer ajuda-nos a não pensar muito. Fazer apaga-nos…

 

Passamos horas, dias, semanas a fazer coisas. Passamos horas, dias, semanas a correr, perseguindo aquela felicidade que, pelo contrário, nos é dada na medida em que paramos de nos preocupar com ela e simplesmente ouvimos o verbo ser, de quem realmente somos e daquele Rosto de Amor que carregamos inscrito no coração, do qual somos imagem e semelhança…

 

«A lei do repouso semanal impunha abster-se do trabalho no sétimo dia, «para que descansem o teu boi e o teu jumento e tomem fôlego o filho da tua serva e o estrangeiro residente» (Ex 23, 12). O repouso é uma ampliação do olhar, que permite voltar a reconhecer os direitos dos outros. Assim o dia de descanso, cujo centro é a Eucaristia, difunde a sua luz sobre a semana inteira e encoraja-nos a assumir o cuidado da natureza e dos pobres.» Laudato Si, 237

 

Estar vazio, não significa apenas ausência. Enquanto professor prezo muito a ordem e sobretudo o silêncio. Como pode uma palavra chegar ao meu ouvido se o silêncio estivesse cheio de sons e ruídos?

 

Este tempo mais vazio, de férias (=vacaciones; vacances; vacanze), não pode ser apenas uma quebra no longo período de trabalho. Deve ser a ocasião para ouvir o nosso coração e o coração dos nossos irmãos. Deve ser ocasião para escutar as perguntas que nos habitam e fazer espaço àquela Palavra que está escondida no nosso íntimo.

 

Boas férias!

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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