2021: Todos pelo Bem Comum!

Crónicas 29 dezembro 2020  •  Tempo de Leitura: 5

«Nada é tão insuportável ao homem, quanto estar em pleno repouso, sem paixões, sem negócios, sem divertimento, sem atividades. Ele então sente seu nada, seu abandono, sua insuficiência, sua dependência, sua impotência, seu vazio. Imediatamente sairá do fundo de sua alma o tédio, o negrume, a tristeza, a aflição, o despeito, o desespero». Pascal, Pensamentos, fragmento 131.

 

A leitura deste fragmento de Pascal transporta-me de imediato para tantos dos eventos e festas que fazemos ao longo do ano. Até que ponto, nesses acontecimentos, celebramos a efeméride, o facto, a data?

 

Este ano, devido à Covid-19, a celebração do Natal quis-se mais comedida. Para muita gente foi: porque em serviço, porque em confinamento, porque hospitalizado… Deveria ter-nos criado a oportunidade necessária para pensar o nascimento de Deus Menino.

 

E agora vem o fim do ano. Suspeito que o grande alarido da festa de final de ano e início do novo ano seja feito justamente para se distrair, para não pensar. Este ano, quer-se também mais sóbrio, moderado.  Aproveitemos para pensarmos o futuro.

 

Celebramos não apesar do fim, mas precisamente porque é o fim. Pensar que algo passa e nunca volta, dói. Este ano, que finda, dói ainda mais porque está a ser difícil. E então é melhor não pensar nisso. Fazemos tudo para não pensar nisso. Fazemos uma grande festa para nos obrigar a pensar em outras coisas, pelo menos por uma noite. Há uma necessidade desesperada de se distrair.

 

Mas não é com distrações que levaremos a melhor este vírus e as suas consequências económicas e sociais. Também não podemos desejar voltar à normalidade que tínhamos, ou já esquecemos todo o calvário que nos lamentávamos à precisamente um ano atrás?

 

Um novo ano está prestes a começar. Para olhar para o futuro, só podemos partir da consciência das fragilidades, dos constrangimentos e, sobretudo, da falsificação dos mitos e das certezas de um determinado pensamento - económico, ético e, portanto, político - que nos empobrece a todos. O novo ano deve ser uma oportunidade de repensar estilos de vida mais sóbrios, solidários e ecológicos.

 

Aqui os cristãos têm um papel importante. Dois recursos importantes: o pensamento crítico apresentado pelo Evangelho e o conhecimento autêntico e experiencial de todos aqueles santos - na glória dos altares ou não - que se dedicaram ao serviço dos outros ao longo da história da Igreja.

 

Para nós cristãos, o Natal significa precisamente isto: a vinda de Deus entre nós numa criança pobre, fraca e frágil de Belém. É o grande mistério da fé cristã: Deus feito homem, Deus no meio de nós! Mas também é um grande anúncio: Deus nos amou a ponto de nos tornarmos o que somos porque nos tornamos o que Ele é.

 

Mas este renovado fervor religioso permanece em vão se o cristão não vier viver e rezar o Natal e se limitar a celebrá-lo por hábito ou como uma verdade dogmática que não o envolve pessoalmente na comunidade.

Ser comunidade, significa compartilhar valores, perspetivas, direitos e deveres. Significa pensar em nós próprios dentro de um futuro comum, a construirmos juntos. Significa responsabilidade, porque cada um de nós é, em maior ou menor grau, o protagonista do futuro de todos.

 

Cito o Papa Francisco no passado dia 9 de setembro:

 

«A crise que vivemos devido à pandemia afeta a todos; podemos emergir melhor se todos buscarmos o bem comum; pelo contrário, sairemos pior. (…) Para construir uma sociedade sã, inclusiva, justa e pacífica, devemos fazê-lo sobre a rocha do bem comum. O bem comum é uma rocha. E esta é a tarefa de todos nós, não apenas de alguns especialistas».

 

Votos de um Novo Ano onde se renove o empenho pessoal pelo bem da comunidade humana, e assim todos alcancemos a felicidade desejada nesta peregrinação terrena.

 

Feliz 2021!

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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