A Lenda do Pastor Benino

Crónicas 15 dezembro 2020  •  Tempo de Leitura: 4

Nos últimos dias, muitos de nós montamos os típicos enfeites de Natal, como a Árvore e o Presépio. Também será comum o lamento que este Natal será diferente. 

 

É neste contexto que gostaria de escrever sobre uma personagem que vi muitas vezes no presépio, principalmente na minha infância e adolescência: o pastor Benino.

 

Se bem que o primeiro se deve a São Francisco de Assis naquela noite de Natal de 1223, em Greccio na Itália, a forma mais famosa e tradicional do presépio, tal como a conhecemos hoje, devemos à tradição napolitana que faz das estatuetas não só um ornamento, mas também dá um significado a cada personagem. As personagens do presépio são capazes de revelar aos homens de todos os tempos os méritos e os defeitos da vida, tal como são vividos por todos.

 

Dentre todas essas personagens, está Benino, aquele que parece ter-se esquecido do Natal. Para quem não está familiarizado com ele, é um menino pastor, geralmente jovem, que está a dormir no chão com a cabeça numa pedra. Isto enquanto uma das histórias mais importantes do mundo se passa ao lado dele.

 

Este pastor representa para mim o quanto gostaríamos de adormecer para sair deste ano difícil, fugir das responsabilidades do quotidiano e esperar acordar quando tudo estivesse mais fácil.

 

Segundo as regras tradicionais do presépio napolitano, este pastor é colocado como a entrada do presépio,  bem longe da gruta da natividade. Por que é que ele dorme e por que é que está assim tão distante? 

 

Diz a lenda que Benino está sonhando com o mesmo presépio em que dorme, ou se se quiser, está dormindo no mesmo presépio que sonha. E já que o presépio é fruto do seu sonho, acordar Benino significaria a extinção instantânea do presépio.

 

Para perceber um pouco mais o mistério desta lenda, devemo-nos referir às características de Benino: é pastor, está no presépio, está dormindo.  O Deus Pã, era o Deus dos Pastores na Grécia Antiga. Ele era o Deus de Tudo, que sonhava com uma nova ordem para o universo. Ora, um Deus pastor, adormecido, sonhava com a nova ordem. Já dá para perceber?

 

O sonho de Benino não deriva do sono preguiçoso de um jovem cansado. O seu sono representa um estado de suspensão da consciência, um momento em que o homem abandona a sua lógica quotidiana e entra numa dimensão diferente, mais aberta às sugestões da Criação e da natureza. É dessa renúncia à lógica humana que pode surgir uma visão como a do presépio. 

 

Benino mostra-nos, com o seu sonho que precisamos de re-nascer. Talvez devêssemos aprender a manter esta estatueta por casa para além do Natal para nos lembrar dessa esperança. Sonhar que os belos momentos de re-nascimento voltem sempre, mesmo apesar das dificuldades do dia a dia. Lembrar ao longo do ano que o Natal está sempre presente dentro de nós. 

 

Distraído e adormecido por tantas coisas, Benino dá-nos o despertador: o Pequenino, todo Amor, Luz, Paz e Verdade, está a caminho.

 

Ainda este ano.

 

De facto: todos os dias.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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