A Urgência de uma Proximidade Social e Comunitária

Crónicas 22 setembro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

Entraram na nossa rotina algumas regras de combate à Covid-19: uso de máscara;  lavagem frequente das mãos; etiqueta respiratória e distanciamento social. Pois é desta última que eu não gosto.

 

Explico-me. Compreendo o que está por detrás desta prática, mas discordo totalmente do conceito. Devemos exercitar o distanciamento físico, mas nunca o distanciamento social! Hoje mais do que nunca precisamos de agir com um todo, como uma única sociedade, esquecendo classes sociais, faixas etárias ou poder económico.

 

A urgência de proximidade em que a pandemia nos colocou, exige-nos uma solidariedade que vai além daquela económica; exige que olhemos para lá das finanças e da economia nacional e europeia; exige uma observação atenta a todo o conjunto do humano e particularmente daquele mais necessitado.

 

Mais do que uma distância social, precisamos de samaritanos que se aproximem dos necessitados, vejam as suas necessidades e atuem de acordo com a urgência de cada um.

 

Durante o confinamento, muitas das nossas famílias viram como todos, estando juntos, perceberam melhor as necessidades de cada familiar. Tenho relatos de pais que viram os seus filhos num contexto que antes era inimaginável. Viram o sentido de responsabilidade, viram uma nova forma de desenvolver e fortalecer a sua irmandade.

 

Muitos viram surgir a solidariedade no seio da sua família, uma nova forma de estar e relacionar que não se observaria em condições normais. A família que passou pelo confinamento é um pouco um reflexo do que deve acontecer no mundo, ou seja, aumentar a atenção para o outro, aumentar a dimensão da solidariedade e apoiar-se mutuamente, porque a unidade é a solução.

 

Precisamos desta proximidade, caso contrário caímos nos mesmos erros que nos roubavam a esperança antes da pandemia. A nível social e antropológico todos acreditávamos que éramos produtos originais… No entanto a homologação na sociedade contemporânea é muito forte, feita de estereótipos, comportamentos e modelos muito difundidos pelos meios de comunicação e pelas redes sociais. Antes da pandemia, pensávamos que éramos os nossos próprios mestres. Mas os compromissos cancelados, as agendas vazias, as ruas desertas obrigaram-nos a mudar.

 

Temos que recuperar aquele tempo que dedicamos à escuta e à atenção aos outros. Hoje existe um circuito contínuo entre o bem-estar e o individualismo. Medimos na relação com os outros uma distância à qual nos acostumamos. Temos dificuldades em pensar como sociedade, como comunidade... Este é um dos nossos maiores perigos: o narcisismo exasperado. A pandemia foi uma grande imersão na realidade em que percebemos que viajamos todos no mesmo barco.

 

“Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento.” 

 

Que estas palavras do Papa Francisco numa Praça de São Pedro vazia, no dia 27 de Março passado, nos ajude a perceber esta necessidade de proximidade social e comunitária.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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