A música está certamente próxima de Deus

Crónicas 7 julho 2020  •  Tempo de Leitura: 3

Ao saber da morte de Ennio Morricone, a minha memória levou-me até à minha adolescência e recordar a primeira ida ao cinema nos meus anos de seminário menor em Fátima. Os seminaristas "mais velhos" foram todos ao cineteatro José Lúcio da Silva em Leiria. Esta experiência nunca se me apagou da memória, não só pela estreia cinéfila mas sobretudo, pelo impacto em nós do filme "A Missão" e da sua banda sonora. No entanto ainda estava longe de conhecer o seu autor e de o saber cristão católico "praticante".

 

Ennio poucas vezes falou em público da sua vida de crente. A sua fé nasceu na família. Os seus avós eram muito religiosos e com a mãe desde cedo aprendeu a rezar antes de se deitar e  a participar na eucaristia dominical. Recorda com frequência que durante a Segunda Grande Guerra rezavam diariamente o Terço.

 

Autor de grande obras instrumentais cheias de espiritualidade acreditava que a música ajuda a rezar, mas que a oração também precisa de "palavras, intenções, concentração".

 

"Rezo uma hora por dia, mais ainda. É a primeira coisa que faço. Também durante o dia, assim, aleatoriamente. De manhã coloco-me diante de Cristo. E também à noite. Espero que minhas orações sejam ouvidas", disse ele em 2015 numa entrevista à "Credere, La gioia della fede".

 

Ser crente, para Ennio, é ser honesto, altruísta, respeitoso para com Deus e para com o próximo: "Amar os outros, ainda se a palavra amar possa parecer forte; mas é assim. Isto é importante." Todo o seu viver jamais deve prejudicar o outro, antes pelo contrário, devemos fazer sempre algo pelas pessoas que encontramos no nosso dia a dia. Valores que passou à sua família:

 

"Nos últimos tempos, temos que nos sacrificar ainda mais: às vezes sacrifico-me para ir ao encontro dos desempregos, e as muitas preocupações que nos cercam. Com minha esposa, que é uma pessoa boa e escrupulosa, acostumamos os nossos filhos a esse sentido de generosidade. Não digo que os meus filhos tenham entendido completamente, não sei, mas sei que são filhos muito bons, que se parecem com o pai e a mãe. Ame os outros como a si mesmo; eis, esta é uma maneira normal de ser para mim."

 

Tanto pudemos aprender com este homem! A música está certamente próxima de Deus. 

 



Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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