Memórias…

Crónicas 28 janeiro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

Foi a 27 de janeiro de 1945 que as tropas aliadas libertaram o campo de concentração nazi de Auschwitz-Birkenau. Ontem celebramos este dia como o Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto. Não queremos deixar cair no esquecimento este terrível genocídio de uma Alemanha nazi sobre judeus, homossexuais, ciganos, deficientes físicos e mentais, opositores a este regime que originou a Segunda Grande Guerra.

 

No ano passado Portugal passou a integrar a Aliança Internacional da Memória do Holocausto. Com esta adesão, o país e os nossos governantes, comprometeram-se a educar as novas gerações para a condenação desta tragédia, de modo a que nunca mais aconteça. Recordar é uma forma de homenagear as vítimas e de evitar que se repita.

 

No domingo, no fim da oração do Angelus, o Papa Francisco referiu-se a esta data, dizendo: “Diante desta imensa tragédia, a essa atrocidade, não é admissível a indiferença e é legítima a memória. Estamos todos convidados a fazer um momento de oração e recolhimento, dizendo em nossos corações: nunca mais, nunca mais!”.

 

Como professor tenho tido o cuidado de comemorar estas datas. Não num sentido de festa, mas antes de recordar e relembrar que, facilmente voltamos a repetir a história. Procuro dar a conhecer aos meus alunos os genocídios que entretanto aconteceram, como o genocídio do Ruanda, também conhecido como genocídio tutsi de 1994, ou neste momento, os muçulmanos rohingyas que fogem de Myanmar e que são das minorias mais perseguidas no mundo, ou os cristãos que são a Religião mais perseguida.

 

Porém, preocupo-me em fazer-lhes ver que tantas vezes somos nós os carrascos de outro tipo de genocídios. Quantas vezes roubamos a liberdade e a dignidade de colegas ou de outras pessoas através de estórias mal contadas ou mesmo falsas? Quantas vezes violentamos as pessoas com o "diz-que-disse", que não passa de uma inveja inconsciente da forma de ser, estar ou de se relacionar do outro? Quantas vezes, por falta de empatia, ou seja, de me colocar no lugar do outro, não uso os filtros necessários antes de exigir sangue de alguém que desconhecemos ou não conhecemos tão bem? Quantas vezes apunhalamos nas costas o colega, o professor, o pai, a mãe ou outro familiar, amigo ou conhecido, sem nunca termos a coragem e a honestidade de sermos frontais e falarmos cara-a-cara com a pessoa? Quantas vezes somos os primeiros a exigir vingança ou justiça nas redes sociais, mas no dia a dia, somos os primeiros a nada fazer?...

 

Que estes Dias de Memória não nos façam esquecer o nosso quotidiano, porque é nele que tantos dos nossos vão morrendo sem que não nos apercebamos que eles estão e são connosco as vítimas dos nossos pequenos holocaustos.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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