Os Nós e os outros.

Cartas a uma amiga 25 outubro 2025  •  Tempo de Leitura: 3

Prolifera o discurso do Nós e ou outros como se Nós fossemos os detentores da verdade, da razão e da pureza. Os outros, esses... são diferentes e como tal não são Nós. Há que defender o Nós seja lá o que isso for. Se o Nós é um estatuto, uma condição social ou económica então eu não faço parte disso. 

 

Alguém nos anda a vender a ideia de que há os bons e os maus, os que podem e os que não podem e esquecem-se que entre o Nós há quem mate, roube e seja corrupto como os dito ”outros”. Alguém nos anda a vender a ideia que não há mal em ser sexista, racista ou machista pois isso até dá likes e pronto, se o Nós gosta então está tudo bem.

 

Se isso é o Nós, então não quero!

 

Gosto de ouvir opiniões diferentes e sujeito-me muitas vezes a isso para treinar a minha resistência. Ainda que revire os olhos, tento ouvir os que têm uma opinião diferente e tentar perceber a razão disso. Não é fácil!

 

Não gosto de pessoas que tentam impor o anormal como a nova normalidade, pois para mim não vale tudo.

 

Não vale o insulto disfarçado de piadola;

Não vale o desdém disfarçado de presunção;

Não vale a ignorância disfarçada de sabedoria.

O resultado é bem visível.

 

Andamos agressivos uns com os outros, prontos a atirar pedras a quem ousa questionar ou até, com a melhor das intenções, se atreve a discordar de algo.

 

Andamos a incendiar relações, a pôr em causa amizades em troca de um suposto lugar entre os bons. O problema é que ninguém é perfeito e volta e meia caímos na desgraça tal qual anjo caído do céu. De repente alguém começa a ver que não és perfeita, que falhas como todos e rapidamente deixas de pertencer ao Nós. E aí começam as guerras internas, as mágoas e as tristezas.

 

Enquanto isso, brincamos com o nosso tempo e damos demasiado tempo a ouvir barulho que nos separa e, a dar um péssimo exemplo do que somos. Sem que nos apercebamos o nosso Nós está a ser destruído porque em breve todos querem ser os outros.

 

E tu amiga, quando sentes que não fazes parte do Nós?

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

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