Bem-vindo ao deserto!

Cartas a uma amiga 27 fevereiro 2023  •  Tempo de Leitura: 3

Já te sentiste como se estivesses num deserto? Assim, como em terreno seco e árido em que dás um passo e parece que não sais do sítio e só PENSAS: quando acaba este tormento?

 

Independentemente do que sintas e quais as razões que te levam ao deserto gostava que pensasses que não és a primeira nem a única nestes caminhos. Seja por problemas no trabalho, ou falta dele, seja problemas de saúde ou falta dela, ou questões de amor, ou falta dele, creio que todos passamos por uma espécie de deserto e fazemos travessias mais ou menos longas.

 

Talvez aqui possamos fazer duas distinções: ir ao deserto ou ser empurrado para o deserto.

 

Eu, todos os anos vou ao “deserto”. É que numa certa fase da minha vida, quando fui empurrada para o deserto, Cristo revelou-se, fez caminho comigo e eu deixei-me conduzir. Cheguei sã e salva, com mazelas e feridas, mas pronta para o que viria a seguir. Mas para quê Senhor? Porquê o deserto? Qual o objetivo?

 

Cristo foi ao deserto para se preparar para o que de grande iria acontecer, para se pôr à prova e mostrar que poderemos resistir às inúmeras tentações que nos colocam no caminho. E eu Senhor, porque tenho de ir? Porque tenho de sentir fome de carinho, sede de conforto, e medo da solidão? Não haverá outro caminho?

 

Seja qual for o caminho, ou local, acho que a companhia que levas é fundamental, bem como as escolhas que fazes quando és tentada. Eu podia ter escolhido outras companhias, como o rancor, a raiva e a injustiça, convivi com elas todas, mas foi o testemunho de Cristo que serviu de bússola e por isso o expresso com tanta gratidão.

 

Não foi um caminho fácil! Aceitei a cruz que carregava e “ressuscitei” no domingo de Páscoa. Agora, todos os anos agradeço a oportunidade de ir ao deserto e fazer silêncio para ouvir a voz que me inspira - a Tua voz Senhor!  

 

Não invalida contudo que, volta e meia, seja empurrada para o deserto, e sinta que de repente tudo fica estranho e vazio mas, como já sei como é estar no deserto, sei que não estou lá sozinha. Resta-me usar a bússola que a fé me dá, porque o deserto não é uma travessia fácil.

 

Mas sabes uma coisa amiga: o deserto é árido mas a quaresma é um tempo fértil. Aproveita!

 

E tu amiga, estás no deserto?

Raquel Rodrigues

Cronista "Cartas a uma amiga"

Raquel Rodrigues nasceu no último ano da década 70 do século passado. Cresceu em graça e em alguma sabedoria, sendo licenciada em Gestão, frequenta o mestrado em Santidade: está no bom caminho!

Aproveita cada oportunidade para refletir sobre os sentimentos que as relações humanas despertam e que, talvez, sejam comuns a muitas pessoas. A sua escrita é fruto da vontade de partilhar os seus estados de alma com a “amiga” que pode bem ser qualquer pessoa que leia com disposição cada uma das suas cartas.

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