Exames a 40 graus… à sombra

Crónicas 4 julho 2025  •  Tempo de Leitura: 5

“Mas vós quem dizeis que Eu sou?”

(Mt 16, 15).

 

Por esta altura do ano, os alunos do 11º e 12º anos fazem os exames finais nacionais. Com verões cada vez mais quentes esta etapa necessária torna-se cada vez mais desafiante e em dias de temperaturas superiores aos 40 graus quase insuportável. Ainda assim, os alunos tentam resolver os exames o melhor que sabem e que estudaram para conseguirem concluir o ensino secundário com médias que lhes permitam entrar nos cursos e universidades que querem. Em cursos com muita procura, por umas décimas se entra ou não.

Por sua vez, os professores vigilantes sentem a alegria de ver seus alunos a chegarem ao cume dos seus percursos escolares. Alunos que viram crescer “em graça e sabedoria” (Lc 2, 40) no decorrer dos anos. Alunos às vezes traquinas e faladores que se tornam jovens homens e mulheres com sonhos de futuro, prontos a arregaçar as mangas e construir, hoje, amanhãs melhores que ontem.

Por outro lado estes mesmos professores, também partilham com os alunos mesmo desconforto face a temperaturas tão elevadas e vão para as suas vigilâncias de 2 a 3 horas e meia munidos apenas de uma caneta, uma garrafa de água e um relógio à moda antiga, aqueles que, se ainda se lembram, apenas marcam as hora e no limite a data. Aqueles que não são smart, mas ignorantes (cuidado com o humor, Raquel, que ainda acabas em tribunal). Canetas para rubricar folhas de teste e de rascunho e água para beber. Nada mais é permitido, não vá um professor de inglês resolver o exame de Matemática A para dar vantagem aos seus alunos que seguramente sabem melhor a matéria do que ele.

Seja como for, são horas de silêncio que nos permitem calar a voz humana para melhor a divina. São uma oportunidade, Senhor, para te dar graças pelas lições e bênçãos dos nossos dias. Oração e introspeção. Aproveito para tentar responder à pergunta que nos fizeste nos 2 últimos domingos: “mas vós quem dizeis que Eu sou?”. Perdoa, desde já, o vocabulário e imagens que não conseguem perfeitamente explicar coisas que ultrapassam a nossa compreensão.

És exatamente o que nos pedes para ser: luz que ilumina as nossas trevas, sal que dá sabor às nossas vidas. Quando andamos perdidos és a bússola que nos guia nos teus caminhos e quando caímos és o perdão que nos levanta - como Paulo a caminho de Damasco (cf. Atos 9, 3-8) - e nos permite recomeçar. Quando desalentados, paramos e queremos desistir és o alento que nos motiva dizendo: “Levanta-te e come pois ainda tens um grande caminho a percorrer” (1Reis 19, 7).

És para mim, o Bom Pastor que deixou as 99 do rebanho para vir ao meu encontro e quando o fizeste disseste-me: “Há mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que para 99 justos que não precisam de arrependimento” (cf. Lc 15 1, 3-7). Deste-me uma comunidade que me acolheu com muito amor e com ela peregrino no caminho de serviço, oração, partilha e amor que nos conduz aos braços do Pai - o teu, o nosso. És fogo que abrasou a minha alma e que não quero apagar, a fonte de água e pão vivos onde sacio a sede e a fome para fortalecida, pegar na minha cruz e seguir-te para onde me quiseres levar. És o alívio dos cansaços de um passado do qual ainda não me consegui libertar completamente – como é difícil perdoar os que nos têm ofendido; o coração onde me quero abrigar e o Amor que por nós se deixou crucificar.

Senhor, és a Verdade e a Vida que há em mim, mesmo que ainda não saiba o que me espera nos amanhãs que ainda estão por vir; o milagre que nos deixou ver e rosto do Pai; és tudo o que não sei dizer e o abraço onde quero adormecer chegada a minha hora de partir para junto de ti.

Graças te dou, Senhor, por seres exatamente quem és!

Raquel Dias

Cronista "Lavar o Dia"

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e apaixonada pela escrita. Voluntária na paróquia de São Julião da Barra. Ovelha perdida que reencontrou o caminho. Hoje, de coração cheio e grato, procura transmitir a alegria do Evangelho a todos os que cruzam o seu caminho. \"Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?\" (cf. 8. Evangelii Gaudium)

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