Alegria pelo presente que é o presente!
“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio.” (Lc 1, 41)!
Hoje interpelaste-me a ir ao teu encontro e ao fazê-lo senti a alegria do encontro em tantos rostos conhecidos que, ao verem-me, sorriram e abraçaram-me como se fosse a primeira vez. Passamos tanto tempo a viver de ilusões, querendo ser quem não somos, ter o que não temos, voltar atrás no tempo para fazer de outra maneira, fazer melhores escolhas ou arranjar um novo emprego porque esse que não temos é o que nos vai realizar plenamente.
Navegamos entre um passado que não voltará a ser presente e um futuro que não nos pertence. Esquecemos que hoje é o presente, a graça que nos dás quando acordamos para um novo dia. Quantas vezes escolhemos voltar para casa pelo caminho panorâmico, parar para ver um pôr do sol, para ouvir as ondas do mar arrebentarem na praia ou para sentir o cheiro da terra depois da chuva? Porque não cantamos mais no chuveiro, mesmo que desafinemos, ou dançamos debaixo da chuva, mesmo que nos chamem de loucos? Porque temos tanta dificuldade em desviarmo-nos das nossas rotinas contadas ao minuto?
Hoje desinstalaste-me da rotina do preceito para levar-me a exultar como João, bendizer como Isabel e glorificar-te como Maria (cf. Lc 1, 39-56). Ao entrar na comunidade que me acolheu como se me conhecesse há muitos anos, de braços abertos como os teus na cruz, e que desde então tem-me visto crescer na fé, senti a enorme alegria de quem chega a casa, por saber que ali cada um tem o seu lugar, quem chega encaixa-se na nossa construção de Legos, que apenas ficará completa quando nos vieres buscar, e quem parte não morre porque vive sempre na memória grata dos nossos corações.
Hoje puseste-me apressadamente a caminho da realidade que, por mais difícil que seja às vezes, é sempre melhor do que a ilusão porque nos foi dada e não inventada. Na humildade do serviço encontramos a ‘estrada de tijolos amarelos’ que nos conduz ao outro, estrada onde estão ‘o leão covarde, o espantalho sem cérebro e o homem de lata sem coração’ (cf. O Mágico de Oz), que na verdade podia ser qualquer um de nós. A generosidade e gratuidade do serviço urge-nos a acompanhá-los à Emaús da desesperança, enquanto testemunhamos as tuas maravilhas, para com eles voltar para a Jerusalém da esperança, onde por amor venceste a morte para dar coragem aos medrosos, conhecimento aos ignorantes e um coração já não de pedra, mas de carne (cf. Ez 36, 26-28), onde vive o teu Espírito de Amor, aos indiferentes.
Bem-aventurados como Maria sejamos por acreditar no cumprimento de tudo o que nos disseste (cf. Lc 1, 45). Gratos sejamos pela realidade do nosso presente e confiantes sejamos no futuro que para nós preparaste, no sumptuoso banquete da vida onde há lugar para todos. Obrigada, Senhor, pelos sorrisos e abraços dos reencontros e por me lembrares como é precioso o presente que nos dás a viver.